Jornalistas e fontes: uma relação em movimento - Temas, vozes e silêncios na Saúde de O Globo (1987-2015)

A presente tese investiga o processo de constituição das fontes de informação em saúde no jornalismo impresso, buscando compreendê-lo a partir da análise do relacionamento entre fontes e jornalistas e as estratégias por eles empregadas na construção dos sentidos da saúde na mídia. Trata-se de um estudo diacrônico sobre o jornal carioca O Globo, cobrindo um período de 28 anos nas últimas quatro décadas (1987-2015), e que parte de um levantamento dos temas abordados e das fontes presentes na cobertura de saúde em quatro períodos intercalados dentro do recorte. Tais dados orientaram a segunda etapa da pesquisa, que constou de entrevistas temáticas com jornalistas ainda atuantes ou que atuaram em O Globo no período estudado, fontes que pontificaram na cobertura e assessores de imprensa, totalizando 15 entrevistados. O estudo é norteado especialmente pelos conceitos de campo (através da obra de Pierre Bourdieu), medicalização e biomedicalização (seguindo a linha proposta por Peter Conrad, Irving Zola e Adele Clarke) e midiatização (em especial pelo trabalho de Fausto Neto), a partir dos quais se buscou compreender as transformações nas relações entre os atores envolvidos na construção dos discursos sobre a saúde e a própria variação na abordagem dessa temática ao longo do tempo Ao relacionar os elementos trazidos pelos depoimentos com o panorama de mudanças nos processos produtivos da mídia e as marcas presentes no noticiário, a pesquisa constatou que a relação fonte-jornalista se constrói em base de colaboração mútua, mas não pacífica, sendo marcada por conflitos e desconfianças. Entre os principais achados, destacamos que a reconfiguração de forças no cenário midiático tem levado os jornalistas a perderem a primazia discursiva para as fontes, que passam a dominar linguagem, rituais e dispositivos e a falar diretamente com o público. Destacamos, ainda, que a multiplicidade de funções hoje sob responsabilidade do repórter, diante da precarização do trabalho nas redações, tira dele tempo e condições para pesquisar os temas que cobre e descobrir novas fontes de informação, ficando mais vulnerável às ações e proposições das assessorias de imprensa, que passam a ter maior influência no agendamento de fontes e assuntos. Em suma, detectamos transformações nos campos de atuação de jornalistas e fontes que têm levado a mobilidades de seus papeis com consequentes reflexos na construção dos sentidos da saúde na mídia

Orientador
Katia Lerner
Autor
Tania Regina Neves da Silva
Citação

SILVA, Tania Regina Neves da. Jornalistas e fontesuma relação em movimento. 2017. 184 f. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde)-Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Rio de Janeiro, 2017.

Ano
2017
Palavras-chave
Comunicação em Saúde
Jornalismo Médico
Tipo de documento
Tese