Zika, substantivo feminino: a produção de sentidos sobre as desigualdades de gênero e os direitos sexuais e reprodutivos da mulher no telejornalismo nacional

A epidemia de Zika no Brasil e sua correlação com a síndrome de malformação fetal, que tem a microcefalia como manifestação mais emblemática, receberam grande visibilidade da imprensa a partir da emergência do vírus no país, em 2015. O aumento do número de pessoas afetadas intensificou o debate público sobre questões polêmicas na sociedade brasileira, como os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, em especial o direito ao aborto. Contexto propício para a expressão de desigualdades, a situação epidêmica foi marcada por inequidades sociais, de gênero e em saúde envolvendo as pessoas afetadas pela síndrome de malformações relacionadas ao Zika. Partindo da perspectiva do campo da Comunicação e Saúde e considerando o alto poder simbólico do telejornalismo, investigamos sentidos produzidos sobre a mulher e seus direitos sexuais e reprodutivos, tomando como objeto as notícias veiculadas no Jornal Nacional (JN), da Rede Globo, e no Jornal da Record (JR), da RecordTV, principais produtos jornalísticos televisivos de alcance nacional do país. Foram considerados três episódios, correspondentes a eventos da epidemia marcantes em relação aos objetivos da pesquisa, definidos a partir da noção de drama epidêmico (Rosenberg, 2002) e aplicada à cobertura jornalística conforme proposto por Cardoso (2012) Utilizando elementos da Análise do Discursos e assumindo a perspectiva da teoria da produção social dos sentidos, com Pinto (1998) e Araujo (2002) como referências, identificamos aspectos relacionados às inequidades de gênero, sociais e relativas à saúde da mulher, mapeando as vozes autorizadas e legitimadas na cobertura noticiosa e analisando visibilidades e silenciamentos, de forma a relacionar estes elementos com a conjuntura política e socioeconômica da epidemia. A análise apontou heterogeneidades e aproximações nos dispositivos discursivos dos dois telejornais ao longo dos episódios estudados. Houve silenciamento das mães e gestantes atingidas pela epidemia no JN, que privilegiou os saberes oficiais e científicos, com apagamento das determinações sociais da emergência e do sofrimento humano. No JR, os enunciados se apresentaram mais polifônicos, com espaço de vocalização para as mulheres atingidas pelas doenças e visibilidade das determinações sociais. Os enunciados de ambos promoveram a naturalização das desigualdades de gênero e o apagamento dos obstáculos ao exercício dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no Brasil, contribuindo para o enfraquecimento dessa discussão junto às autoridades nacionais e aos debates públicos nas esferas civil e jurídica.

Orientador
Inesita Soares de Araujo
Autor
Marina de Castro Ferreira Saraiva Carvalho
Citação

CARVALHO, Marina de Castro Ferreira Saraiva. Zika, substantivo feminino: a produção de sentidos sobre as desigualdades de gênero e os direitos sexuais e reprodutivos da mulher no telejornalismo nacional. 2018. 143 f. Dissertação (Mestrado em Informação e Comunicação em Saúde)-Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018.

Ano
2018
Palavras-chave
Comunicação em Saúde
Zika Vírus
Jornalismo Científico
Microcefalia
Tipo de documento
Dissertação