Minha graduação, em 1975, foi em Comunicação Social, na UFPE. Fiz mestrado (1995) e doutorado (2002) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. O pós-doutorado foi em 2015, em Ciências Sociais, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. Sou pesquisadora titular da Fiocruz, vinculada ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict) e atuo no Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde (Laces).
Tenho desenvolvido várias pesquisas, que caminham em três direções, articuladas entre si: 1) a que busca compreender e dar visibilidade às relações entre comunicação, desigualdade, iniquidade e inequidade em saúde; 2) a que enfoca o campo da Comunicação e Saúde, em suas dimensões política, epistemológica, teórico-metodológica, institucional e seus agentes e práticas; 3) a que se interessa por espaços e processos de mediação e produção social de sentidos.
Professora permanente do PPGICS, do qual fui cofundadora e primeira coordenadora, dou aulas e oriento alunos de mestrado e doutorado, nos mesmos temas que pesquiso. Dois grandes eixos conceituais organizam os conteúdos que procuro oferecer: 1) o conceito de comunicação como um processo desigual de negociação / disputa dos sentidos sociais – da vida e do mundo; 2) o entendimento da comunicação como direito de dupla face: direito à informação e direito a voz; 3) a busca incessante e decorrente opção por abordagens teóricas, metodológicas e políticas orientadas pelas Epistemologias do Sul e pela perspectiva decolonial de modo geral.
Além de artigos e capítulos de livro, escrevi três livros: "A Reconversão do olhar - prática discursiva e produção dos sentidos" (Editora Unisinos), "Comunicação e Saúde" (Editora Fiocruz) e "O jogo como prática de saúde", os dois últimos em coautoria. Também coorganizei o livro "Pandemia e produção de sentidos: relatos, diálogos e discursos" (Eduepb).
Integro a diretoria do Centro Internacional de Semiótica e Comunicação (Ciseco). Coordenei o Curso de Especialização em Comunicação e Saúde de 2002 a 2008. Desde 2002, lidero o grupo de pesquisa Comunicação e Saúde (CNPq); participo do GT Comunicação e Saúde da Abrasco (coordenei de 2017 a 2024); coordenei também o GT Comunicación y Salud da ALAIC - Associação Latinoamericana de Investigadores da Comunicação, de 2010 a 2018 e o GT Políticas e Estratégias de Comunicação, da Compós, Associação dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação.
Antes de ser da Fiocruz, me dediquei por 30 anos à comunicação com as pessoas do meio rural – agricultores familiares, trabalhadores rurais, artesãos – nas áreas da agroecologia e do associativismo.
Conheça as publicações mais recentes da docente:
WESCHENFELDER, A.; FAUSTO NETO, A.; HEBERLÊ, A.; ARAÚJO, I. S.; CORRÊA, L. G.; RUSSI, P. (org.). Pandemia e produção de sentidos: relatos, diálogos e discursos. 1. ed. João Pessoa: Editora da UEPB, 2021. v. 1.
ARAÚJO, I. S. Hegemonias, tensões e rearticulações: desafios de um campo na pandemia do coronavírus. In: WESCHENFELDER, A.; FAUSTO NETO, A.; BORELLI, V. (org.). Midiatização, pandemia e eleições: disputas e transformações nas discursividades contemporâneas. 1ed. João Pessoa: Editora da UEPB, 2023. v. 1. p. 71-88.
ARAUJO, I. S.; SILVA JUNIOR, A. A.; SILVA JUNIOR, J. G. Trajetórias plurais em sinergia: anotações sobre a construção de uma linha de pesquisa em Comunicação e Desigualdade. In: BORGES, W. C.; PEREIRA NETO, A. (org.). Comunicação, poder e processos sociais em saúde: Paradigmas, abordagens e tendências.1ed. São Paulo: Gênio Editorial, 2024. p. 9-20.
SILVA JUNIOR, A. A.; ARAÚJO, I. S.; RAMOS, M. N. P. Contextos existenciais e culturais: a identidade romani pela filosofia cigana. Mnemosine Revista, Campina Grande, v. 13, p. 78-92, 2023.
CAVACA, A. G.; OLIVEIRA, I. M.; ARAUJO, R. I.; ELIAS, W. C.; ARAÚJO, I. S.; LISBOA, M. Comunicação e pandemia: interlocuções criativas de populações vulnerabilizadas no Distrito Federal. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 32, supl. 1, p. e220914pt, 2023
O projeto toma como pontos de partida: 1) o entendimento de que a prática comunicativa é um importante na determinação da universalidade e da equidade na saúde; 2) a constatação da sua ausência entre os determinantes sociais da saúde e os fatores de negligenciamento em saúde, tanto nas instâncias de pesquisa como de definição das políticas públicas do setor; 3) a construção pública dos discursos sobre desigualdades na saúde e especificamente sobre negligenciamento, que omite a dimensão comunicacional do conjunto de problemas e questões que conformam o tema; 4) a convicção de que o direito à comunicação é inseparável do direito à saúde e a presença/ausência e a natureza da comunicação praticada afeta diretamente esse direito. Em decorrência, o interesse principal do projeto – que se constitui como uma matriz – é pelo desenvolvimento de estudos e pesquisas que aprofundem a relação entre comunicação e desigualdades sociais em saúde, com suas consequentes inequidades e iniquidades, tanto epistemológica, teórica ou metodologicamente, bem como na prática comunicacional concreta. O projeto inclui no seu escopo atual uma pesquisa de pós-doutorado, pesquisas orientadas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, concluídas ou em andamento e projetos de pesquisa concluídos ou em andamento no Laboratório de Comunicação e Saúde/Icict/Fiocruz.
A desigualdade social afeta as condições de acesso à saúde pela população e isto inclui fortemente a desigualdade no acesso à informação e comunicação. As políticas de enfrentamento da Covid-19 foram configuradas para condições de vida das classes média e alta, característica traduzida nas estratégias de informação e comunicação. Porém, a letalidade do vírus é maior entre a população pobre das cidades e do campo, cujas condições financeiras, de moradia e acesso à água não estão contempladas nas formas de prevenção do contágio. Tomando como premissa a existência de iniciativas comunicacionais localizadas que utilizam tecnologias de fácil acesso e adequadas à cultura e contextos de seus habitantes para ajudá-los no controle da pandemia, consideramos que conhecer e compreender essas iniciativas poderia ajudar as instituições de saúde na formulação de campanhas com mais chances de reconhecimento e apropriação pela população. Nosso objetivo foi, então, localizar, caracterizar e sistematizar tecnologias comunicacionais coletivas periféricas para o enfrentamento da Covid-19. A partir de cinco núcleos: Rio de Janeiro/Fiocruz; Brasília/Fiocruz; Recife/ Fiocruz; Vitória/Ufes; João Pessoa/UFPB, foram identificadas 50 iniciativas comunicacionais na região metropolitana destas capitais e seus coordenadores convidados a integrarem a pesquisa como coprodutores de conhecimento sobre o tema. Resultados e conclusões já foram apresentados e se encontram em fase de circulação.
Interseccionalidades e (de) colonialidades na Política Nacional de Integração em Saúde dos Povos Ciganos: uma abordagem e um caminho para descolonizar o SUS
A pesquisa objetiva localizar a gênese, caracterizar e propor alternativas à forma como a população cigana é percebida, acolhida e cuidada pelas instâncias do SUS. Partimos da percepção de que as políticas da área, ancoradas em princípios equitativos, decoloniais e interseccionais, não são consideradas pelos profissionais de saúde, por desconhecimento ou preconceito, reforçando uma atitude colonial na prática dos serviços. Estudaremos a circulação e apropriação da comunicação sobre o tema em quatro locais que concentram população cigana. A pesquisa inclui ativamente pessoas ciganas em diferentes lugares de fala (coordenação adjunta, equipe de pesquisa, coordenadores de campo, interlocutores, designer e produção gráfica) e a metodologia fílmica e conversacional potencializa a voz das pessoas que participarão em quatro comunidades representativas dos povos ciganos, localizadas nos estados da Paraíba, Goiás, Bahia e Rio de Janeiro. Entre os produtos, um guia para gestores e trabalhadores, outro para as pessoas ciganas, ambos em versão digital e impressa, uma proposta de monitoramento para a política de saúde cigana e um documentário.
Por uma semiologia decolonial das desigualdades sociais em saúde: o lugar da comunicação
Este projeto teve sua origem em uma pesquisa de pós-doutoramento, que estabeleceu princípios de uma metodologia de pesquisa em comunicação para o enfrentamento das desigualdades em saúde e vem se desenvolvendo ao longo do tempo, a partir da aplicação desses princípios em diferentes pesquisas coordenadas pela professora, assim como em pesquisas de doutorado e mestrado. Seu horizonte se bifurca em dois objetivos: 1) A produção de conhecimentos sobre a dimensão comunicacional das desigualdades em saúde; 2) o desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa (e subsidiariamente de ação) que não só evidencie essa dimensão, mas que – através das ideias de emergências e resistências comunicacionais e de descentralização da enunciação, possa ajudar a visibilizar e potencializar iniciativas que rompam as dessimetrias e conformem uma comunicação no campo da saúde que (re)conheça e valorize os conhecimentos, capacidades e competências das pessoas na pesquisa e atuação sobre os temas que dizem respeito à suas vidas e interesses.