A partir do final do Século XX, se desenhou um quadro de ampliação da conectividade através das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs). Esse cenário gerou disputas pela apropriação das NTICs e movimentou as relações de poder no âmbito mundial. As NTICs passaram a estar presentes em todas as esferas da vida cotidiana. Seus usos e apropriações na saúde tornaram-se grandes preocupações, particularmente no campo da saúde mental, onde a Reforma Psiquiátrica Brasileira buscou promover a desinstitucionalização de pessoas em sofrimento mental e construir um novo paradigma. Nesse sentido, a apropriação das NTICs por sujeitos em sofrimento mental tornou-se estratégica. Esta Tese analisa a experiência do projeto “Eu quero entrar na rede”, realizado por dez cidadãos em sofrimento mental, usuários do Centro de Atenção Psicossocial II Carlos Augusto Silva Magal (CAPS-Magal), localizado na Comunidade de Manguinhos, na cidade do Rio de Janeiro. Eles construíram, de forma autônoma, entre 2018 e 2019, o Blog “Libertando a Mente”. Esta experiência contada com o apoio da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fundação Oswaldo Cruz e foi realizada no Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (LaISS), vinculado ao Centro de Saúde Escola Germano Sinval de Faria da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Foi realizado em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS). Esta tese está organizada em três eixos temáticos centrais: Comunicação e Saúde, Saúde Mental e Educação Popular em Saúde. A questão orientadara está associada ao debate sobre o empoderamento e o protagonismo dos usuários por meio do uso e apropriação das NTICs. Objetivos: analisar de que forma os processos comunicacionais empregados se inserem na trajetória de vida e terapêutica dos usuários participantes; identificar as contribuições para o protagonismo e na vida de cada um dos participantes; explicar em que medida essa participação promove mudanças de lugar social dos participantes em suas redes comunitárias/relacionais; discernir as mudanças ocorridas na evolução do tratamento farmacológico e biomédico a partir da participação do projeto. Metodologicamente, a pesquisa esteve dividida em duas abordagens: relato de experiência e história oral. Primeiramente, foi feito um relato de experiência baseado em materiais produzidos pelos usuários participantes e pela equipe do projeto durante sua realização. Em um segundo momento, foram entrevistados 18 assuntos envolvidos, direta ou diretamente, com o projeto utilizando a história oral. São eles: usuários participantes, seus familiares e profissionais do CAPS-Magal. Resultados: o trabalho demonstra que as atividades para a construção do blog desenvolvem com o empoderamento e o protagonismo dos participantes. Esse empoderamento 8 se deu em diferentes frentes, pois aumentou as habilidades para lidar com o NTIC, potencializou laços de amizade entre os participantes, interferiu no tratamento e retomada de vida, reduziu a presença da biomedicina e dos recursos farmacológicos e potencializou o autoconhecimento e a autoconfiança dos sujeitos. Conclusão: a apropriação das NTICs pode ser um instrumento para potencializar o empoderamento e a promoção do protagonismo de pessoas em sofrimento psíquico privado como alternativa ao tratamento biomédico e farmacológico.

Autor: Bruna Vanessa Dantas Ribeiro | Ano: 2023
  • Comunicação e Saúde
  • Educação Popular
  • História Oral
  • Novas Tecnologias da Informação e Comunicação
  • Saúde Mental

Os estudos de revisão sistemática (RS) sintetizam as evidências publicadas em diferentes estudos e devem garantir a reprodutibilidade do processo adotado e diminuir o número de viés no processo adotado. A análise dos fluxos de produção e comunicação da informação pode auxiliar na análise dos processos envolvidos na produção das descrições e uso social das evidências científicas no contexto de busca e recuperação da informação para composição da base de evidências científicas dos estudos de RS. Assim, este estudo se propôs a investigar, a dinâmica das ações de informação no contexto de elaboração das revisões sistemáticas para constituição da base de evidências científicas através de uma pesquisa qualitativa descritiva e analítica com abordagem crítica que avaliou os estudos de revisão sistemática da área de Odontologia. Questione-se como os atores e suas práticas presentes no processo de busca e recuperação e publicação da informação conformam uma base de evidências científicas na área de Odontologia. Para responder a esta pergunta, realizou-se uma pesquisa empírica que envolveu a coleta e análise preliminar dos estudos de revisão sistemática em três bases de dados bibliográficos - Medline/Pubmed; Scopus e BBO/Lilacs, na qual foram identificados inicialmente 5.518 registros que, após a retirada das duplicações e exclusões, examinados em uma amostra de 1.058 estudos, avaliados na primeira análise das variáveis ​​não relacionadas ao relato das buscas e 1.017 estudos, na segunda análise dos 38 campos. Esses estudos foram desenvolvidos quanto ao processo geral de busca reportado, associado ao uso de dois instrumentos padronizados - Peer Review of Electronic Search Strategy (PRESS) e o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Literature of Search (PRISMA-S) A análise revelou alguns aspectos que reafirmam a relevância de determinadas políticas públicas na garantia do acesso à literatura científica via Plataforma de Periódicos da CAPES, o fomento público à pesquisa e a internacionalização da produção científica brasileira. Os problemas identificados na maioria das revisões sistemáticas, tais como a falta de reprodutibilidade dos estudos e a seleção encontrada das fontes essenciais e complementares exigidas no desenho das perguntas de estudo sinalizaram a importância da participação do profissional da informação/bibliotecário na elaboração, análise e divulgação dos estudos de síntese.

Autor: Daniele Masterson Tavares Pereira Ferreira | Ano: 2023
  • Revisão sistemática
  • Regime de Informação
  • Ação de informação
  • Busca e recuperação da Informação
  • Peer Review of Electronic Search Strategy - Press
  • Odontologia

Partindo do grave período de emergência sanitária deflagrada pela pandemia de COVID-19 em março de 2020, questionamos por que as mulheres, no momento tão complicado da pandemia, colocavam o medo de engordar em relevância semelhante aos cuidados sanitários que a COVID-19 exigiria? Por que a imagem do corpo feminino era assunto tão presente nas redes sociais digitais com memes relacionados com a gordura, a obesidade e a beleza? A profusão de conteúdos gordofóbicos e de pressão estética presentes no Instagram nos levou à observação e posterior análise de três postagens de cada um dos perfis @movimentocorpolivre e @malujimenez_ que questionam o controle do corpo feminino por meio da abordagem da pressão estética e da luta antigordofobia respectivamente. Considerando a hipótese de que o discurso da autoaceitação corporal e da gordofobia representa uma versão contemporânea do controle do corpo feminino, buscamos as construções de sentidos sobre gordura, obesidade, beleza e corpo feminino nas representações do corpo feminino presentes nos discursos médicos em teses médicas publicadas nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro entre meados do século XIX e início do XX e nos discursos midiáticos da revista Fon-Fon, que circulou na primeira metade do século XX, bem como suas atualizações nas construções narrativas nas redes sociais digitais do século XXI por meio da circularidade cultural atravessada pelos tempos cobertos. Dessa forma identificamos nas teses médicas que as representações do corpo feminino são correlacionadas com as comportamentais, além do protagonismo do papel da mulher-mãe e da maternidade como o ápice da beleza feminina. Nas texturas midiáticas da revista Fon-Fon verificamos o reforço da narrativa da beleza como contrapartidas de feminilidade e uma aproximação com a interlocutora/leitora do semanário. Nessas texturas as representações presentes remetem ao protagonismo da mulher-bela. Por meio da circularidade cultural constatamos que as contruções enunciativas selecionadas nas teses médicas e na revista Fon-Fon ora afastam-se e ora aproximam-se das extraídas das postagens dos perfis @movimentocorpolivre e @malujimenez_ sustentando a plausibilidade de nossas hipóteses de que o discurso da autoaceitação corporal e da gordofobia representam uma versão contemporânea da tentativa de controle do corpo feminino. Por fim, em diálogo com campo no qual essa pesquisa encontra-se circunscrita, a mulher, do ponto de vista da comunicação e da informação, era objeto de quem se falava no discurso médico-científico, quanto ao midiático da revista Fon-Fon a mulher é a suculenta com quem se fala. E em nosso tempo, pelo menos nos perfis do @malujimenez_ e @movimentocorpolivre a mulher fala por si, por e para outras mulheres, considerando que “lugar de fala” é atravessado pela ideologia, pelo imaginário e por representações que habitam em nós.

Autor: Roberta Cristina Barboza Galdencio | Ano: 2023
  • Obesidade
  • Gordofobia
  • Pressão estética
  • Corpo positivo
  • Corpo Feminino
  • Teses Médicas
  • Revista Fon-Fon
  • Circularidade Cultural
  • Representação Cultural

A centralidade que as mídias ocupam nas vidas das pessoas e das instituições é uma característica marcante do nosso tempo, que se expressa em todos os níveis de sociabilidade. Há décadas, os meios de comunicação de massa comandados por conglomerados ditam comportamentos e tendências sociais, moldam contextos políticos e econômicos, formam opinião pública, pautam - ou agendam - a sociedade. Neste início do século 21, a entrada definitiva da internet no dia a dia da maioria da população, no mundo e no Brasil, amplia a participação de pessoas comuns, desvinculadas dos centros hegemônicos que tradicionalmente concentram o poder de fala, na dinâmica de produção e circulação de sentidos. Esse cenário - agravado pela pandemia de covid-19 - organiza novas configurações sociotécnicas que implicam transformações profundas nas formas de se relacionar e se comunicar, inclusive no campo da Informação e Comunicação em Saúde. Com o objetivo de contribuir com a compreensão dos efeitos da midiatização da sociedade sobre o campo da Informação e Comunicação em Saúde e suas implicações sobre como as instituições sanitárias se organizam e interagem, propomos uma leitura do conceito de midiatização inspirada em autores brasileiros e estrangeiros - Bourdieu (1989), Braga (2012), Carlón (2017), Fausto Neto (2012), Hjarvard (2012), Sodré (2002, 2017) e Verón (1993, 2012, 2014) - e aplicado ao campo da Informação e Comunicação em Saúde a partir de arcabouço teórico traçado por Araújo (2015), Araújo e Aguiar (2017, 2020), Araújo e Cardoso (2007), Sacramento (2017) e Zoya e Petracci (2018a, 2018b). Como ponto de partida, elencamos quatro premissas que nos ajudam a compreender as características da midiatização em contextos específicos, como o da pandemia de covid-19: (1) a midiatização é um processo histórico, situado concretamente no tempo e no espaço; (2) a midiatização não se dá, apenas, pelas tecnologias em si, mas sobretudo pelas invenções sociais dadas a elas, uma combinação que altera sobremaneira a circulação discursiva; (3) na sociedade midiatizada como multimídia um campo social inovador e independente, que regula o funcionamento e a interação dos demais campos sociais; (4) nesse processo, um habitus midiático se instala na sociedade, na estrutura dos campos sociais, no funcionamento das instituições e nas vidas das pessoas, atualizando a disputa pelo poder simbólico de fazer crer e fazer ver (BOURDIEU, 1989) a partir da por capital midiático concorrência. Empiricamente, desenvolvemos estudo de caso sobre o Observatório de Saúde na Infância e concluímos como as quatro proposições teóricas se manifestam nas práticas e nas disputas do campo da Informação e Comunicação em Saúde.

Autor: Isabel Levy Sobreira | Ano: 2023
  • Midiatização
  • Comunicação e Saúde
  • Informação e Comunicação em Saúde da criança
  • Infância

Esta tese objetivou verificar o grau de coerência semântica entre a representação temática via linguagem controlada e a indexação automática de artigos publicados em português na área de saúde pública, com o apoio teórico da mineração de textos. Propõe-se uma análise de coerência semântica entre o conteúdo dos artigos científicos selecionados e sua representatividade (palavras-chave e descritores), observando o uso da indexação automática e da linguagem controlada na representação temática dessa informação em saúde. A amostra utilizada na análise foi apresentada de 104 textos publicados em português em seis jornais brasileiros da Coleção Saúde Pública, disponíveis na Scientific Electronic Library - SciELO, publicados no ano de 2020. A pesquisa baseadaou-se na bibliometria, desenvolvida no processamento da linguagem natural , com o uso de software para mineração de textos. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, composto por análise quantitativa e qualitativa, que possibilitou a compreensão da forma, estrutura, representação do volume e desses textos para a indexação automática dessa produção. O estudo aponta que a coerência do conteúdo dos artigos treinados com seus termos representativos poderia chegar a um melhor resultado com o uso da indexação automática. O método possibilitou o aumento do quantitativo de termos representativos do conteúdo dos textos, o que é promissor para o campo da recuperação da informação. Foi também possível perceber como esse processo pode colaborar no aprimoramento da representação de conteúdo de artigos na área da saúde pública, apesar de a área apresentar possuir um vocabulário controlado.

Autor: Fatima Cristina Lopes dos Santos | Ano: 2023
  • Indexação automática
  • Linguagem Natural
  • Coerência Semântica
  • Artigos Científicos
  • Saúde Pública
  • Brasil

Este trabalho se debruça sobre o campo da Tradução do Conhecimento (TC) e os desafios de implementação de inovações no campo da saúde mental a partir de ações de formação. É um estudo descritivo e exploratório que parte do reconhecimento de que as evidências científicas no campo da saúde levam muitos anos para serem rupturas, o que pode representar mortes evitáveis, além de fragilizar o cuidado. Esta realidade é, reconhecidamente, mais evidente no campo da saúde mental, em função de preconceitos e estigmas historicamente determinados, em especial, quanto ao uso de álcool e outras drogas. O aumento da prevalência dos transtornos mentais, a sinalização do cuidado de base territorial e a Redução de Danos como estratégia de cuidado, fazem parte de um contexto que aponta para a necessidade de investigar os processos de TC no campo da saúde mental quando relacionados à formação dos profissionais de saúde. Esse trabalho faz essa discussão a partir do Projeto Caminhos do Cuidado - Formação em Saúde Mental (Crack, álcool e outras drogas), uma ação formativa pioneira no campo da saúde mental, proposta pelo Ministério da Saúde, realizada durante os anos de 2013 a 2015 que formamos 237.262 Agentes Comunitários de Saúde e Auxiliares e Técnicos em enfermagem em todo o país. A análise dirigida à literatura foi feita à pesquisa documental e entrevistas com atores-chave que participaram da organização e implementação do Projeto para que, juntas, fossem discutidas à luz do framework, Consolidated Framework for Implentation Research (CFIR). A análise do material aponta que a ação formativa, Projeto Caminhos do Cuidado, se pautou pelas evidências científicas, encontrou um contexto político bastante favorável, experimentou uma feliz confluência entre sua equipe, utilizou um modelo pedagógico participativo e dialógico, tecnologia desenvolvida que permitiu a capilarização das atividades e participação das Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde, fatores que desenvolvem para atingir as metas do projeto. Entretanto, mesmo com o reconhecido êxito da ação formativa, integra-se a complexidade do processo de CT no campo da saúde mental, o que reforça os desafios envolvidos na busca pela integralidade do cuidado. Um TC deve ser compreendido como um processo que envolve vários atores e níveis de gestão os quais, por vezes, têm lógicas e tempos de ação diferentes. Quando não propriamente articulados e engajados, corre-se o risco de captura pela lógica que individualiza, culpabiliza e desresponsabiliza aqueles teoricamente comprometidos com a integralidade do cuidado.

Autor: Elzimar Evangelista Peixoto Pinto | Ano: 2023
  • Tradução do Conhecimento
  • Ciência da Implementação
  • Formação em Saúde
  • Saúde Mental
  • Projeto Caminhos do Cuidado

A judicialização da saúde no Brasil é um tema relativamente recente na literatura científica. As discussões no campo mostram-se, não sem surpresa, ainda divergentes, em grande parte, fruto da escassez de dados sistematizados para sustentá-las. Para compreender a judicialização enquanto um fenômeno heterogêneo e complexo, que ultrapassa a saúde, defende-se a importância de se empregar fontes de dados mais robustas, abertas à perspectiva interdisciplinar. A presente tese parte da proposta de judicialização 2.0 que defende um esforço de coletar, sistematizar e divulgar dados abertos, em nível nacional, on time e online, somados ao esforço interdisciplinar para agregar outras dimensões do fenômeno da judicialização da saúde com vistas a ampliar e qualificar os litígios na área. Nesse sentido, a tese tem o objetivo de apresentar o desenvolvimento de uma metodologia, inserida no campo dos estudos sobre Infraestruturas de Informação (II), que se propõe, a partir do Diário da Justiça Eletrônico (DJe), monitorar periodicamente os litígios em curso e descrevê-los de forma mais qualificada, abrindo a possibilidade de inserção de outras dimensões, complementares, que ampliem a compreensão da judicialização da saúde. Em atenção ao conceito de “práticas baseadas em evidências”, foi desenvolvido, em caráter exploratório, um protótipo, JUDJe (judje.com.br), orientado para ler, coletar, agrupar, classificar e disponibilizar dados de judicialização da saúde, especificamente, nos litígios em câncer, no estado do Rio de Janeiro, no período entre 2015 e 2021. Fundamentado a partir de uma recuperação da informação por padrão morfossintático e linguagem natural, por meio de dicionários de referência (DR), o protótipo processou 26 milhões de movimentações no DJe do TJRJ, das quais 68 mil ocorrências processuais em saúde, sendo mais de 47 mil processos únicos sobre câncer. Os dados foram categorizados em 24 variáveis, as quais podem ser expandidas para outros tribunais, outros recortes temporais e outros agravos. Para validar a metodologia originária do JUDJe e pensando na apropriação do sistema por parte de usuários diversos, foi empregada a prova de conceito (PoC), de tal forma que os dados qualificados, apresentados pelo sistema, possibilitam a configuração de bancos de dados personalizados sobre a judicialização. O JUDJe se mostrou escalável, expansível, híbrido, de alta disponibilidade, capaz de fornecer uma infraestrutura potencial, até então inexistente no Brasil, que permite novas configurações de dados e análises do próprio judiciário, da gestão pública e da sociedade.

Autor: Janio Gustavo Barbosa | Ano: 2022
  • Judicialização da saúde em câncer
  • Infraestrutura da informação
  • Sistema de informação
  • Prova de conceito
  • Prática baseada em evidência

Nos últimos anos, aplicações que utilizam componentes baseados em Inteligência Artificial (IA) têm se tornado onipresentes em nosso cotidiano. No campo da saúde, ao mesmo tempo em que a IA pode promover enormes avanços, uma questão que se apresenta, e que é desafiadora para a sua adoção, é fazer com que o seu uso seja justo e não discriminatório contra pessoas, grupos, comunidades, populações e instituições. Outra característica marcante é que parte do êxito recente das aplicações baseadas em IA está relacionada a modelos cada vez mais complexos, sacrificando o entendimento humano sobre o seu funcionamento. Em áreas potencialmente sensíveis como a saúde, a falta de transparência é uma limitação que pode ocultar tratamentos discriminatórios ou, por falta de confiança na solução, funcionar como uma barreira para a adoção da tecnologia, o que pode levar a perda de enormes oportunidades para a melhoria do acesso aos serviços de saúde. Esta pesquisa, no primeiro momento, se concentra em identificar os fatores, técnicos, regulatórios e éticos, que podem contribuir para a construção de um ambiente mais adequado para o desenvolvimento da IA nos serviços de saúde. Em seguida, busca compreender como o funcionamento dos métodos de interpretabilidade, que podem fornecer, para modelos de IA reconhecidamente pouco transparentes (black boxes), alguma interpretabilidade e como isso pode impactar os serviços de saúde. Para isso, foi criado um experimento contrafactual relacionado a multiplicidade preditiva e consistência de explicações por meio de listas de importância dos atributos de quatro dos principais modelos de predição (classificação). Esta é uma pesquisa construída com um olhar para o Sistema Único de Saúde (SUS) e, especialmente, o seu princípio doutrinário da Equidade. Com isso, esperamos que o uso de IA na saúde possa contribuir para mitigar os efeitos das iniquidades sociais e econômicas, não para perpetuá-las ou agravá-las, ao criar um ambiente mais transparente e confiável.

Autor: Jefferson da Costa Lima | Ano: 2022
  • Ciência de Dados
  • Saúde Pública
  • Inteligência Artificial
  • Aprendizagem de Máquina
  • Ética e Interpretabilidade

O álcool pode ser considerado uma substância que propicia a integração entre os indivíduos por possuir características facilitadoras das interações sociais. Porém, apesar de estar atrelado a festividades e celebrações, o consumo nocivo dessa substância pode estar associado a diversos agravos de saúde e até à morte. O beber pesado e o beber e dirigir se configuram como dois comportamentos prejudiciais à saúde que são monitorados em âmbito nacional e internacional para prover subsídios às políticas públicas no enfrentamento dos problemas de saúde provocados pelo uso do álcool. A presente tese tem o objetivo de analisar o hábito de beber pesado e o comportamento de beber e dirigir, investigando suas características sociodemográficas e os fatores associados a esses hábitos. Trata-se de um estudo transversal que utilizou dados de duas edições da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizadas em 2013 e 2019, e dados da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN). Foi possível verificar que 6,1% (IC95% 5,8 – 6,4%) dos brasileiros tinham o hábito de beber pesado em 2013 e 7,3% (IC95% 6,9 – 7,6%) em 2019. Nas duas edições da PNS observou-se um gradiente de diminuição do beber pesado durante a vida, com as maiores prevalências entre os adultos jovens, entre os homens, com baixo nível de escolaridade, entre os solteiros e residentes da área urbana. Os dados também mostraram que a prevalência do hábito de beber e dirigir foi maior entre os homens em 2013 (27,4%; IC95% 25,6 – 29,3%) e 2019 (20,5%; IC95% 19,4 – 21,7%) do que entre as mulheres (11,9%; IC95% 9,9 – 14,2% e 7,2%; IC95% 6,7 – 9,0%, respectivamente) e que estimativas significativamente mais altas foram apresentadas por pessoas de 30 a 39 anos, que vivem sem companheiro(a), residentes em áreas rurais, condutores de motocicleta. Maiores prevalências de beber e dirigir foram encontradas entre homens que possuem maior rendimento. Entre 2013 e 2019, foi observado um decréscimo significativo no beber e dirigir em todas as Unidades da Federação (UF), exceto no Tocantins. As análises também mostraram baixas aplicações de infrações em partes da região Norte e no Nordeste, no ano de 2019. Os resultados encontrados nessa tese expõem a necessidade de maiores intervenções para combater o consumo nocivo de álcool, adotando estratégia para diminuir o beber pesado e beber e dirigir nos subgrupos populacionais mais vulneráveis.

Autor: Lucas Sisinno Ribeiro | Ano: 2022
  • Consumo de bebidas alcoólicas
  • Estilo de vida
  • Dirigir sob a influência
  • Acidentes de Trânsito
  • Inquéritos de saúde
  • Brasil

Este trabalho tem como objetivo discutir o lugar do Outro na Comunicação Pública, bem como as possibilidades de uma comunicação pública ultrapassar os limites da mediação e produzir efetivamente um debate polifônico, que permita deslocamentos de lugar e o protagonismo de múltiplas vozes. Ele parte da compreensão de que o exercício do direito à comunicação, entendido como o direito humano individual e coletivo de comunicar, de falar e ser ouvido, associado historicamente à luta pela democratização da comunicação, é indissociável do exercício dos demais direitos, inclusive do direito à saúde. A pesquisa teve como referências estudos do direito à comunicação em Stevanim e Murtinho (2021), das teorias da enunciação e da produção social dos sentidos em Araújo (2004) e Orlandi (2007) e dos estudos subalternos e pós-coloniais em Spivak (2010). Em sua dimensão empírica, a pesquisa envolveu leitores da Revista Radis em um processo participativo de análise discursiva da presença, da ausência e do protagonismo de vozes de atores sociais diversos na textualidade da revista, examinando matérias jornalísticas por eles escolhidas. Nessa sucessão de conversas individuais e coletivas com o pesquisador, os participantes refletiram também sobre comunicação e saúde, atuando como coprodutores desse conhecimento. O estudo aponta que a Comunicação Pública pode e deve desenvolver-se como um espaço que se abre à presença do Outro e ao protagonismo de sua voz. No entanto, com base no que emergiu da pesquisa participativa, das análises e de suas contextualizações, percebe-se que a dimensão do Outro é muito maior do que a Comunicação Pública pode alcançar ou oferecer. A alteridade é maior do que a polifonia, maior do que a comunicação que acontece no encontro. O lugar do Outro na comunicação é um instante da existência do Outro.

Autor: Rogério Lannes Rocha | Ano: 2022
  • Comunicação Pública
  • Comunicação e Saúde
  • Radis
  • Polifonia
  • Direito à Comunicação

Os estudos de gênero vêm sendo desenvolvidos desde meados do século XX em campos diversos como as Ciências Sociais, as Ciências da Saúde, a Filosofia e o Direito. Embora já estivessem presentes na Comunicação, sua consolidação nesse campo é mais recente. Esta tese, desenvolvida no campo interdisciplinar da Informação e Comunicação em Saúde, interessa-se pelos regimes de visibilidade que envolvem a questão trans, que abarca vivências de pessoas não contempladas pelo binarismo homem/mulher e que adotam identidades de gênero que incluem designações como transgêneros, transexuais, mulheres trans, homens trans, travestis e pessoas não-binárias. Estão em foco as tensões que constroem sentidos sociais e dão a ver ou não pessoas e grupos, seus corpos, suas demandas e seus afetos. Tomando visibilidade como categoria teórico-metodológica, analítica e social, buscamos entender sua relação com a construção social dos sentidos, assumindo o entendimento de que diferentes atores, em diferentes instâncias, concorrem nessa produção que se altera segundo múltiplos contextos, a saber: político, biomédico, jurídico, artístico e midiático. O objetivo geral é compreender como vêm sendo construídas as formas de visibilidade de identidades trans no Brasil, a partir de seu reconhecimento formal em 2004, com a instituição do Dia Nacional da Visibilidade Trans, quando um grupo de travestis visitou o Congresso Nacional para promover a campanha “Travesti e respeito”. De forma específica, procuramos caracterizar e qualificar a produção discursiva sobre as pessoas trans em espaços hegemônicos de visibilidade, observando com especial atenção as formas de nomeação, os corpos, as demandas e os afetos mostrados; compreender como se veem e veem o olhar sobre si; e compreender como realizam práticas comunicativas para manter ou alterar a visibilidade construída sobre si. A questão da visibilidade trans no país foi discutida considerando como pontos de observação três instâncias: Estado, jornalismo e movimentos sociais. Para tanto, o olhar se voltou para campanhas promovidas pelo Governo Federal; notícias publicadas por dois jornais de referência e os relatos de nove pessoas trans que compõem movimentos sociais ou contribuem com eles e que participaram dessas produções. A estratégia narrativa consistiu no cotejamento das discussões teóricas, das descrições das campanhas e notícias e das considerações analíticas com os relatos e as percepções das pessoas entrevistadas, preservando as marcas de oralidade e estilo pessoal. Essa opção foi a maneira encontrada para fazer jus à proposta teórico-metodológica de falar com as pessoas, que tiveram oportunidade de conhecer e discutir os resultados numa rodada de devolutivas. Acreditamos, ainda, que a opção de estruturar a tese dessa maneira evidencie sua especificidade: um esforço de comunicação tão horizontal quanto possível no qual as pessoas entrevistadas pudessem participar em diferentes etapas do processo e com suas próprias vozes. Após a análise das entrevistas, das campanhas, das notícias, sustentamos que as formas de visibilidade trans construídas desde 2004 são ainda insuficientes para um gozo pleno de cidadania por parte das populações gênero-dissidentes. Há um deslocamento da estigmatização para uma certa fetichização dessas pessoas e seus corpos. Apesar disso, contribuíram para conquistas importantes como o direito à retificação da documentação civil e a oferta do processo transexualizador pelo SUS. Argumentamos, então, que as formas de visibilidade inicialmente construídas na Saúde e reconstruídas nos campos midiático e cultural são incompletas e problemáticas, mas possíveis e, em alguma medida, agenciáveis. Elas ajudaram a humanizar vivências que já não podem mais ser vistas como abjetas.

Autor: Tatiana Clébicar Leite | Ano: 2022
  • Gênero
  • Visibilidade trans
  • Campanhas
  • Notícias
  • Pessoas trans

As práticas itinerantes desenvolvidas por museus e centros de ciência urgem por uma agenda de pesquisa que coloque a itinerância como o fenômeno central a ser estudado, com referenciais próprios, capazes de iluminar, principalmente, as inúmeras oportunidades de coprodução de conhecimentos que surgem ao longo do ir e vir, dos encontros com territórios tão diversos e das experiências vividas com os públicos e dentro da própria equipe. As aprendizagens organizacionais que podem decorrer desses deslocamentos são centrais para ampliar e fortalecer a interação entre ciência e sociedade, promovendo maior engajamento público com a ciência, em um caminho para a busca de equidade e justiça social. Usando como estudo de caso o museu itinerante Ciência Móvel – Arte e Ciência sobre Rodas (Ciência Móvel), do Museu da Vida Fiocruz, inspirado em referenciais teóricos dos estudos sociais da ciência e tecnologia, e apoiando-se em diferentes perspectivas metodológicas (pesquisa documental, análises de bancos de dados do Museu da Vida e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, principalmente, conversas de pesquisa com profissionais de diferentes perfis envolvidos no trabalho do Ciência Móvel), buscou-se desvelar os múltiplos espaços de coprodução de conhecimentos que se dão nas fronteiras que constituem o processo da itinerância, desde sua concepção até sua concretização nos territórios. De uma perspectiva institucional interna, que considera a criação, institucionalização e consolidação do trabalho do Ciência Móvel, às interfaces externas que englobam as relações tecidas nos/com os municípios onde as ações acontecem e com outros parceiros, foram descritos diversos contextos em que o cruzamento de fronteiras propiciou espaços potentes para a coprodução de conhecimentos. Foi possível ainda identificar as diferentes esferas que compõem o trabalho de um museu itinerante (gestão das viagens, formação, pesquisa, inovação, educação, comunicação institucional, cultura, relações intra e interinstitucionais, registro e memória, além de perspectivas transversais de avaliação e equidade, acessibilidade e inclusão) e as dimensões a partir das quais as aprendizagens organizacionais podem acontecer (documental, estrutural, procedimental, conceitual, política, subjetiva/afetiva e profissional). Os resultados apontaram que, ao longo da existência do Ciência Móvel, tais aprendizagens, na maior parte dos casos, nasceram a partir da empiria das vivências e foram impulsionadas pelos tensionamentos, disputas, enfrentamentos institucionais, experiências problemáticas e questionamentos dentro da própria equipe. Apesar das “dores” inerentes ao itinerar, a tese permitiu explicitar as “delícias” do pensar e do fazer da itinerância, testemunhando o potencial dessa constante hibridização com o outro para promover diferentes e novas iniciativas de interação entre ciência e sociedade, colocando-se, assim, como uma importante oportunidade para o aprimoramento das ações de divulgação científica enquanto compromisso institucional.

Autor: Ana Carolina de Souza Gonzalez | Ano: 2022
  • Museus itinerantes
  • Itinerância
  • Fronteiras
  • Coprodução de conhecimentos
  • Aprendizagem organizacional

Esta tese tem como objeto a comunicação das práticas de saúde da Atenção Primária (APS) no Brasil. A partir de uma perspectiva comunicacional, dialoga com outras áreas do conhecimento como a Sociologia, a Antropologia e a Psicossociologia para compreender as práticas de saúde como construções sociais em constante transformação, atravessadas por mediações culturais em disputas e contradições. Destacam-se mudanças mobilizadas pela midiatização nas interações comunicativas contemporâneas. Propõe-se um modelo de análise denominado de Mapa de Interações Comunicativas das Práticas de Saúde, com base nas teorias de Jesús Martín-Barbero e José Luiz Braga. O modelo é utilizado em um estudo de processos comunicacionais durante os sete primeiros meses da pandemia de Covid-19. Eventos que enfatizaram a resposta da APS foram realizados desde o início da pandemia, sendo posteriormente armazenados na plataforma YouTube. Constituíram-se em produtos comunicacionais privilegiados para a análise de narrativas e das interações entre indivíduos e organizações que passaram a ser midiatizadas (BRAGA, 2001; BRAGA et al., 2017). O fenômeno de produção de lives na pandemia também ganhou novos objetivos e proporções devido ao isolamento social (LUPINACCI, 2020). Foram analisados o canal Portal da Inovação da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o canal do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o canal Ivando Agente de Saúde. A trama de mediações e sentidos nos contextos investigados apresentou interações em confluências, negociações e enfrentamento. Episódios interacionais ressaltaram a confluência de interesses e negociações entre a lógica comunitária e a lógica neoliberal. Práticas gerenciais que pressionaram por resolutividade produziram sentidos de urgência e emergência. Algumas unidades privilegiaram os dispositivos de acesso, outras engendraram o acúmulo das novas ações ao leque de dispositivos da APS, produzindo sentidos de heroísmo e resiliência. As estratégias comunicativas dos canais objetivaram a transmissão de informação, mas também promoveram o diálogo entre os participantes. As narrativas envolveram relatos de histórias vividas e mobilizaram predominantemente interações de apoio mútuo e pertencimento. Conclui-se ser possível a construção de estratégias capilarizadas e complementares na comunicação das práticas de saúde, que intervenham no momento de apropriação das mensagens, à luz dos códigos dos diferentes grupos que as recebem.

Autor: Patricia Estrella Liporace Barcelos | Ano: 2021
  • Comunicação em Saúde
  • Atenção Primária à Saúde
  • Negociação
  • covid-19

Termos como big data e ciência de dados ganharam visibilidade nas últimas décadas, sendo em geral associados aos desafios de análise de grandes bases de dados. Pretende-se com este trabalho reunir teorias e métodos da Ciência de Dados em Saúde como uma contribuição à Saúde Pública, estudando o ciclo de geração e disseminação de informação em saúde e aplicar técnicas de coleta, extração e visualização de dados com métodos de ciência de dados. Partindo de uma perspectiva histórica, a relação entre dados e saúde foi visitada, apresentando um novo paradigma da ciência de dados em saúde, considerando as possibilidades hibridas de uma ciência theory & data driven para a Saúde Pública. Os métodos e modelos de processo de ciência de dados, especificamente o KDD, SEMMA e CRISP-DM, foram explorados criticamente. Avaliando seus pontos em comum, um novo modelo de processos denominado KDD-PH (Knowledge Discovery in Databases for Public Health) foi proposto, sugerindo etapas específicas para um modelo de processos de ciência de dados para a pesquisa em saúde pública. Produções acadêmicas autorais foram apresentadas como resultados da aplicação prática destes métodos.

Autor: Raphael de Freitas Saldanha | Ano: 2021
  • Ciência de Dados
  • Saúde Pública
  • Métodos Epidemiológicos

A presente tese procura trazer para o centro da discussão as relações entre desastre e gênero, que configuram uma linha de investigação emergente no âmbito da ciência dos desastres (Disaster Research), cada vez mais visível no mundo contemporâneo. Enquanto eventos socialmente construídos, reflexos de uma sociedade tecnocrata e desigual, particularmente nos países periféricos, os desastres deixam um rastro de iniquidade e vulnerabilidade nos territórios, redesenhados pela devastação e destruição de suas infraestruturas básicas. Muito do foco da discussão teórica sobre desastres se forjou na gestão da prevenção, e muito pouco na gestão da recuperação dos territórios e de sua base social, particularmente nas dimensões políticas, sociais, econômicas e na saúde das populações atingidas. Por isso, o desastre revela desigualdades do desenvolvimento social que colocam algumas pessoas, mais do que outras, em condições de risco. Em geral, aqueles que vivem por mais tempo as consequências do desastre, fazem parte de uma parcela da população que já se encontra anteriormente negligenciada dentro das comunidades, como é o caso das mulheres: o grupo mais vulnerável entre os vulneráveis. A presente pesquisa, de caráter exploratório, se colocou como objetivo de desvelar algumas dimensões de gênero e desastres a partir de um olhar sobre rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, no ano de 2015. Entendendo o desastre como um fenômeno multidimensional e multifatorial, o que se propôs aqui é um primeiro olhar que visa identificar a presença e voz das mulheres em três perspectivas sobre o desastre em Mariana: na ciência, no legislativo e na sociedade civil. Na perspectiva científica, o olhar se volta para a produção cientifica (artigos de periódicos) e os Grupos de Pesquisa registrados no Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); na perspectiva legislativa, para um conjunto de atos normativos da Câmara dos Deputados, e na perspectiva da sociedade, por meio do uso da Lei de Acesso à Informação (LAI), todos elas tomadas como espaços de visibilidade pública de informação e comunicação na temática. Nas três perspectivas, se procurou por mulheres tanto na autoria como na temática/assunto em discussão. Os resultados aqui alcançados atestam aquilo que a literatura internacional já aponta: a dimensão gênero, principalmente sobre as mulheres, ainda se encontra invisibilizada na ciência, no legislativo e na sociedade no Brasil, no período analisado. Igualmente, à luz do que se discute tanto nos países centrais como periféricos, é urgente que a ciência dos desastres aprofunde seu caráter interdisciplinar, dando voz e presença ao conhecimento e experiências das mulheres, atores centrais que, na sociabilidade dos territórios, precisam se reinventar para continuar existindo. De todos os aprendizados que uma tese pode produzir quando se chega ao final do caminho, além da vontade óbvia de recomeçar, na presente autora fica a marca indelével de ter conhecido mulheres que sobreviveram ao rompimento da barragem do Fundão, e que até hoje lutam e insistem para que, Bento Rodrigues também não desapareça em meio aos rejeitos que hoje, certamente, sedimentam o leito do Rio Doce

Autor: Nathalia Silva Barbosa Saldanha | Ano: 2021
  • Estudos de gênero
  • Desastres Provocados pelo Homem
  • Acesso à Informação

Esta pesquisa de doutoramento teve como objetivo enfocar a Comunicação na Atenção Primária à Saúde – Estratégia de Saúde da Família. A investigação privilegiou a análise dos Diagnósticos Situacionais Participativos – DSP, que foram elaborados por profissionais de saúde de Clínicas da Família, alunos da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e População, no ano de 2019, no município do Rio de Janeiro. O DSP é uma ferramenta que contribui na percepção e compreensão de problemas e necessidades de saúde, educação, saneamento, segurança, transporte, habitação, informação e comunicação, bem como permite conhecer como é e como está a organização dos serviços de saúde. É, portanto, um instrumento fundamental de gestão, uma vez que propicia a interlocução de três atores sociais com lugares de fala distintos, que representam a academia, o serviço e a população. Esta propriedade é favorável para se obter diferentes pontos de vista sobre as questões concernentes ao processo de sua construção Além de nos permitir traçar um panorama histórico e conceitual da Atenção Primária e seus atributos essenciais na produção do cuidado multiprofissional na orientação individual, familiar e comunitário, o que nos interessou nesse processo foi analisar de que maneira a comunicação é percebida e relacionada às questões apontadas no itinerário do desenvolvimento da produção e conclusão dos DSP. Para tanto, trabalhamos com a perspectiva da Análise de Discursos, recorrendo ao sentido das palavras plenas, palavras investidas de sentidos historicamente, ou teoricamente ou pela prática social. Identificamos palavras que, no âmbito da saúde coletiva, foram consideradas investidas do sentido de comunicação: Comunicação, a palavra mãe de sentido, Participação, Promoção da Saúde, Rede e Território. O corpus textual utilizado para a análise foi formado por três Diagnósticos Situacionais Participativos, aplicados em diferentes lugares. Os resultados apontaram a potência do instrumento para se verificar o lugar e as questões de comunicação no processo de construção do DSP.

Autor: Teresa Cristina de Carvalho Lima Neves | Ano: 2021
  • Comunicação e Saúde
  • Atenção Primaria
  • Estratégia de Saúde da Família
  • Residência Multiprofissional

Entre sujeitos e objetos aborda o trabalho coletivo empregado na condução de estudos clínicos que reúnem investigadores brasileiros em colaboração com pesquisadores de múltiplas localidades. Problematiza-se, em especial, as relações de subalternidade implicadas e os resultados decorrentes deste encontro ao questionar como as evidências científicas (aparentemente universais) são construídas e apropriadas em contextos potencialmente marcados por assimetrias. Neste sentido, o objetivo central consiste em compreender como desigualdades históricas advindas de processos coloniais podem incidir sobre o trabalho de investigadores clínicos nacionais e interferir no resultado das evidências produzidas. 6 investigadores clínicos de uma instituição pública foram acompanhados através de suas participações em dezenas de ensaios clínicos multicêntricos de abrangência transnacional ocorridos entre os anos de 2015 e 2019. No decorrer destes processos, foram observadas as posições ocupadas por estes investigadores nacionais, além das materialidades produzidas nesses encontros coletivos. O arcabouço teórico-conceitual utilizado articula contribuições da Teoria Ator-rede (CALLON, 1986; LATOUR, 1987; LAW, 2013) em diálogo com os conceitos de Cidentidade (HALL, 1997), conhecimentos situados (HARAWAY, 1995) e zonas de contato (PRATT, 1999) O método de pesquisa definido segue uma abordagem microssociológica voltada, prioritariamente, no acompanhamento e descrição do trabalho dos investigadores clínicos no curso de suas ações. As técnicas adotadas contemplam um conjunto heterogêneo de procedimentos de coleta e análise de dados, cuja organização os reúne sob a forma de uma narrativa autoral denominada roteiro de viagem. Ao final, discute-se sobre cada posição ocupada pelos investigadores locais seguidos e suas contribuições distintas no processo de significação de evidências médico-farmacêuticas.

Autor: Vinicius Pellizzaro Klein | Ano: 2021
  • Ensaio Clínico
  • Estudo Multicêntrico
  • Transculturação
  • Experimentação Humana

A presente tese versa sobre como ocorre a mobilização de grupos de ativismo em câncer e como são engendradas práticas sociais e comunicacionais que produzem novas configurações e reivindicações de direitos e tratamentos em oncologia. Para esta empreitada utilizei a etnografia, que para além de um método, reflete um modo de observar e pesquisar pautado em conhecimentos teóricos que embasaram o olhar sobre o objeto empírico e nortearam a análise na perspectiva sócio-antropológica e comunicacional. A investigação dos modos de mobilização em torno dessa doença teve início pela observação participante do Movimento Todos Juntos contra o Câncer, dos congressos conduzidos por esse movimento e a partir dessa observação foram escolhidas quatro associações de pacientes com foco de atuação nos direitos do paciente com câncer. Durante a investigação, acompanhei as ações e trajetórias dos principais protagonistas que se destacaram por sua atuação e visibilidade como ativistas da área, ou como agentes de advocacy como muitos se denominam. Entrevistei cinco pessoas que possuem protagonismo na área e investiguei as estratégias e modos de ação e articulação para o alcance das reivindicações propostas por eles e pelas associações das quais faziam parte. As reivindicações mais acionadas pelos ativistas destacaram-se em três eixos principais com diversos desdobramentos: modos de financiamento; acesso e tratamentos oncológicos no Brasil e incorporação de tecnologias de saúde em oncologia. Os modos e as ações utilizadas pelos atores sociais para alcançar as reivindicações envolvem estratégias para conseguir mudanças nas políticas públicas, sobretudo pelo legislativo através de articulações entre diversos agentes para o alcance dos objetivos. Outro modo de ação, passa pela judicialização quando certos direitos não são assegurados ou quando o direito à vida está ameaçado. Desta forma, a judicialização representou uma saída possível, mas pouco valorizada pelos ativistas como modo de ação, numa perspectiva mais individual quando algum direito à saúde foi desconsiderado. As ações também foram atravessadas pela aproximação das farmacêuticas no entrelaçamento entre governo, serviços de saúde, mercado e associações de pacientes. Para refletir sobre esses manejos discuti a noção de biolegitimidade, da esperança como categoria e da vida como valor que são acionados para legitimar certos tratamentos e modos de financiamento. Investiguei também como as associações de pacientes e os atores sociais utilizam os processos comunicacionais como uma estratégia para alcançar as reivindicações e serem reconhecidas como espaços legítimos de ativismo em câncer. Isto envolveu a formação de novos coletivos por meio da sociabilidade no ambiente digital, a ampliação do alcance comunicacional de suas ações, visando atingir um número maior de participantes e público interessado em geral. A espetacularização dos eventos com a participação de celebridades midiáticas também foi explorada pelas associações como um modo de encantar e engajar pessoas nas pautas de reivindicação. A despeito do maior alcance que os dispositivos comunicacionais permitiram, as mobilizações apresentaram preponderância de falas autorizadas e legitimadas socialmente, tais como médicos, profissionais especializados como advogados, administradores, psicólogos e sanitaristas de camadas médias, brancas. Apesar de ser um ativismo de organizações de pacientes, sua voz tem pouco protagonismo sendo utilizada para corroborar pautas de reivindicação e estratégias de ação. Os movimentos sociais em câncer ainda carecem de maior representatividade racial, social e precisam ser analisados nas margens, ou seja, naquilo que é ofuscado diante desse modo de fazer ativismo no Brasil.

Autor: Keila de Moraes Carnavalli | Ano: 2021
  • Direitos do Paciente
  • Oncologia
  • Comunicação
  • Acesso a Medicamentos Essenciais e Tecnologias em Saúde

Este trabalho é o resultado de uma pesquisa que no contexto das políticas públicas de saúde para as minorias, e tendo como principal interesse contribuir para a melhoria das condições de vida e saúde da população em situação de rua, cartografou as convergências e conflitos entre as diferentes perspectivas e sentidos de corpo e cuidado de si dos sujeitos envolvidos no cenário urbano no país. A partir de procedimentos metodológicos sintetizados e classificados em Análise Documental; Cartografia: conversações, registro visual da realidade vivida, mapeamento dos interlocutores; Análise socio-semiológica: Análise Discursiva dos atores governamentais e Tradução da população em situação de rua. Esta metodologia multifacetada e inclusiva permitiu uma participação ativa dos sujeitos de pesquisa que agregada aos conceitos dos estudos anticoloniais pelas vias das Epistemologias do Sul (Santos, 2009), da teoria do corpo social (Bourdieu, 2014), do biopoder (Foucault,2002), das vidas não passiveis de luto (Butler, 2019) e da necropolítica (Mbembe, 2019) possibilitou identificar dez proposições relevantes para o futuro das construções participativas das políticas públicas Trata-se de uma pesquisa realizada no campo da Comunicação e Saúde (C&S) na qual os textos foram analisados buscando as vozes/códigos (Barthes, 1992), as palavras plenas (Maingueneau,1993), as condições de produção (Verón,1980) e a noção de contextos e da comunicação como um mercado simbólico (Araujo, 2002), cujo eixo teórico é a ideia de poder simbólico (Bourdieu, 2004). A conjuntura da pandemia atravessou a pesquisa e os sentidos produzidos por ela, bem como as mudanças nas vidas das pessoas em situação de rua, e afetou os resultados que apontaram para dez percepções, sendo que a principal conclusão de que há uma convergência dos sentidos de corpo, saúde e cuidado de si, quando se trata do que está no arcabouço legal, do que pensam os técnicos e até do movimento organizado da população em situação de rua. Esse sentido é o defendido pelo campo da saúde coletiva de que saúde é mais que ausência de doenças. Saúde em seu sentido ampliado, entendido como um bem-estar geral, que engloba as questões territoriais, econômicas, nutricional e etc. Na rua os sentidos mudam e a saúde é vista como ausência de doenças e o corpo como uma estrutura que os sustentam.

Autor: Nadja Maria Souza Araujo | Ano: 2021
  • Pessoas em Situação de Rua
  • Comunicação em Saúde
  • Coronavírus
  • Política de Saúdel

A importância da cultura audiovisual é sentida e experimentada a cada dia em diversos setores da sociedade, seja por meio dos produtos da indústria cultural, de tecnologias educacionais ou das formas de sociabilidade propiciadas pelo uso da internet. Em uma sociedade midiatizada, onde as lógicas da cultura midiática se espraiam pelas práticas sociais, a disponibilização de vídeos no YouTube ganha força estratégica para visibilizar e garantir a capilaridade da produção de conhecimento e tornar visíveis atores e propostas que dificilmente têm lugar nos meios de comunicação tradicionais. Mas, como se dá o processo de circulação de documentários sobre saúde no YouTube? Quais mediações os atravessam e como atuam? Por que alguns filmes são mais vistos e circulam mais do que outros? Quais as potencialidades, tensões e fragilidades da plataforma? Com esses pontos de partida, o objetivo desta tese foi desenvolver e propor um método de mapeamento e análise da circulação de vídeos sobre saúde disponibilizados no YouTube que permitisse identificar as mediações sociotécnicas que interferem nesse processo. Este estudo parte do olhar interdisciplinar da área da Comunicação e Saúde, que propõe articulações das práticas comunicacionais com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e o entendimento da comunicação como direito que garante outros direitos, como o direito à saúde, como apresentam Inesita Araujo e Janine Cardoso (2007). Toma-se para tal o modelo de comunicação como mercado simbólico proposto por Inesita Araujo (2002, 2004), no qual a comunicação atua como um mercado e os sentidos sociais são bens simbólicos negociados e disputados em meio a relações de saber e poder. O marco teórico desta pesquisa também articula os conceitos de circulação Fausto Neto (2008, 2010a, 2010b); Braga (2007, 2012a, 2012b); Jenkis, Green e Ford (2014), midiatização (além de Fausto Neto e José Luiz Braga, também a perspectiva proposta por Krotz (2007) e Nick Couldry (2014), em articulação com a abordagem das mediações comunicativas da cultura de Jesús Martín-Barbero (2009, 2015). Selecionamos e analisamos a circulação de três documentários sobre o tema violência obstétrica: Nascer no Brasil: Parto, da violência obstétrica às boas práticas (2014), Violência obstétrica: a voz das brasileiras (2012) e A dor além do parto (2013). O método compreende três etapas: identificação dos contextos de produção e circulação; rastreamento dos circuitos, a partir do uso de métodos digitais e a identificação e análise das mediações. Entre os resultados, destacamos que as mediações sociotécnicas atuam de forma decisiva para que os filmes ampliem ou não seus circuitos de circulação de origem, em especial a ação dos algoritmos pelos sistemas de recomendação e indexação; as listas; ações de ciberativismo e engajamento e a mediação do comunicador em combinação com a ação algorítmica. Concluímos que as mediações sociotécnicas são cada vez mais determinadas e determinantes na circulação dos documentários sobre saúde e até preponderantes à legitimidade de uma instituição do campo da saúde, revelando as transformações da sociedade, cujas práticas sociais estão sendo reconfiguradas pelo metaprocesso de midiatização, uma metamediação.

Autor: Daniela Muzi | Ano: 2020
  • Comunicação em Saúde
  • Mídias Sociais
  • Filme e Vídeo Educativo

Há pouco tempo, para alguém obter informação, era preciso comprar um jornal, um livro, uma revista ou ir até uma biblioteca distante e pouco acessível. Hoje, a Internet disponibiliza uma miríade de informação aos cidadãos em poucos segundos. Existem inúmeros sites sobre assuntos relacionados aos temas de saúde. A diversidade de produtores de conteúdo e a possibilidade de divulgação de qualquer tipo de informação sem avaliação apontam para o problema da qualidade da informação de saúde na Internet. Para lidar com esse problema, a avaliação e a recomendação de sites considerados confiáveis têm sido realizadas por profissionais, pesquisadores e instituições pública ou privadas. Uma das principais questões nesse campo está relacionada com os critérios utilizados na avaliação de sites de saúde. O critério ‘acurácia’ é o mais utilizado. Identificamos um problema na definição desse critério que admite o consenso entre especialista como parâmetro de qualidade. O consenso não garante que seu resultado seja atual e correto. Pelo contrário, os profissionais envolvidos podem estar desatualizados. Eles podem apresentar opiniões e condutas que estejam em desuso. Assim, o objetivo desta tese foi desenvolver indicadores de ‘acurácia’ baseados nas melhores e mais atuais evidências científicas. O caso escolhido foi a tuberculose. Para construir os indicadores, desenvolvemos métodos orientados pela ‘medicina baseada em evidência’ (MBE). Apresentamos os fundamentos e as práticas da MBE que inspiraram os métodos deste trabalho. O resultado foi o desenvolvimento de 43 indicadores de ‘acurácia’ para a tuberculose nas dimensões de prevenção, transmissão, sintomas, diagnóstico e tratamento. Organizamos os indicadores em grupos segundo o conteúdo informacional das evidências como BCG, HIV, crianças, fatores de risco, tuberculoses resistentes, entre outros. Por último, utilizamos os indicadores para avaliar a página sobre tuberculose do glossário “Saúde de A a Z” do site do Ministério da Saúde. No glossário, falta muita informação e há informação incorreta. Esta avaliação reitera a importância dos indicadores desenvolvidos para oferecimento de informação de qualidade. Esperamos que este trabalho contribua para o avanço do conhecimento no campo de avaliação da qualidade da informação de saúde na Internet e para o enfrentamento da tuberculose.

Autor: Rodolfo Paolucci Pimenta | Ano: 2020
  • Medicina baseada em evidência; Internet e acesso à informação; Critérios; Indicadores de acurácia; Tuberculose

O objetivo desta tese é analisar a construção da bula de medicamentos no Brasil, por meio do processo de regulamentação das políticas públicas nacionais e sua adequação à realidade socioeconômica educacional do consumidor. Trata-se de um objeto industrial de consumo de natureza técnico-cientifica institucionalizado pelo Estado, com o dever, segundo a Constituição Federal de 1988 (artigo 198), de proporcionar aos cidadãos o direito e o acesso à informação. A bula foi investigada em termos das configurações entre forma e conteúdo das informações técnico-científicas instituídas por meio de análise qualitativa de seu arcabouço regulatório. Contemporaneamente, e diante da abrangência do problema analisado, voltamos nossa atenção para a configuração das bulas dos medicamentos usados em ação específica de governo: \201CPrograma Saúde Não Tem Preço. Por meio de uma metodologia qualitativa (análise do arcabouço legal e estudo de caso do Programa do Governo Federal "Saúde Não Tem Preço" para o combate das DCNT), e da operacionalização dos conceitos de \201Cjustiça social\201D, \201Cpolítica pública\201D, \201Cdemocracia da informação\201D, \201Calfabetismo\201D (literacy), \201Cdesign da informação\201D, buscou-se demonstrar, que, embora tenha havido um desenvolvimento recente no processo de formulação e implementação de políticas públicas sobre medicamentos no Brasil, é preciso aprimorá-las para adequar a forma de apresentação da informação técnico-científica das bulas à realidade socioeconômica educacional dos consumidores, com a participação de uma tecnociência como o Design de Informação, desempenhando papel fundamental nesse processo de adequação Constatou-se que a bula é um documento institucionalizado, e sua regulação atende a um arcabouço legal histórico que vem se desenvolvendo, ao longo de sete décadas, juntamente com a criação de órgãos de fiscalização em saúde e em vigilância sanitária (SNFMF, SNVS, SVS e ANVISA), desde sua primeira publicação em 1931. É possível notar que o desenvolvimento do processo regulatório da bula, apesar das mudanças ocorrerem entre longos espaços de tempo, a partir da criação da ANVISA (1999) começa a se atualizar com mais frequência. Assim, a bula passou a ser tratada com mais especificidade tanto com relação ao conteúdo quanto à forma, uma vez que o assunto sobre \201Cforma e conteúdo\201D da bula tem recebido maior atenção tanto das normas publicadas na regulação vigente quanto de seus usuários

Autor: Patricia Tiemi Lopes Fujita | Ano: 2014
  • Design da Informação
  • Alfabetismo em Ciência e Tecnologia

O processo decisório envolve a escolha entre alternativas distintas de ação, por meio de caminhos entre o estado existente e o estado desejado do sistema. Deste modo, o objeto de estudo empírico desta tese tem por foco o uso e gestão da informação no processo de tomada de decisão, concentrando-se nos gestores de saúde que são considerados também como usuários de informação. Parte-se do pressuposto de que a consolidação de um modelo de gestão em saúde orientado para o aprimoramento do cuidado requer a aplicação da governança da informação e tecnologia da informação em saúde. O uso da informação no processo decisório em saúde tem o potencial de melhorar a qualidade dos sistemas de saúde ao integrar agentes, processos de trabalho e fluxos, podendo também ser responsável pela redução de custos e pela partilha e transmissão de informação, impactando diretamente sobre o cuidado à saúde dos pacientes. No entanto, existe atualmente um desafio no que concerne ao modo como estas informações são produzidas e utilizadas, havendo, por exemplo, uma defasagem entre o volume e a velocidade com que se produz e disponibiliza informação atrelada à capacidade dos agentes em utilizá-la. Adicionalmente, a forma como esta informação é gerida pode ser alterada consoante os governos e lideranças, e suas respectivas prioridades. O objetivo geral foi avaliar a contribuição do uso e gestão da informação em saúde para o processo decisório de gestores de saúde em setores da administração pública a fim de aprimorar o cuidado à saúde. O método utilizado consistiu em usar uma abordagem qualitativa para detalhar a complexidade de um tema dinâmico como é a Saúde Foi realizado um estudo de caso comparativo, no Rio de Janeiro, entre as esferas municipal, estadual e DATASUS, da esfera federal, realizando-se entrevistas com nove agentes. Adicionalmente, foram incluídos documentos de gestão, cujo método de análise consistiu numa associação entre Análise de Conteúdo e uma adaptação da Teoria Fundamentada. Após a análise dos resultados, foi possível concluir que os gestores de maior hierarquia dispendem a maior parte do seu tempo em processos de decisão centrados nas doenças agudas transmissíveis. A informação é pouco utilizada neste processo decisório, sendo apontada, como principal causa, a fragilidade dos Sistemas de Informação em Saúde. O tipo de informação mais utilizada é a epidemiológica, compatibilizada com as informações administrativa e financeira, bem como a informação científica. Notou-se um desconhecimento dos agentes acerca das etapas do ciclo de vida da informação, com o gerenciamento deste ciclo dependente do gestor que aplica a sua visão de curto e médio prazo sobre como efetuar tratamento da informação. Por fim, a proposta teórica que liga a tríade de gestão da informação com a do processo decisório, através da comunicação, permitindo a união e reorganização sustentada e recíproca das inter-relações foi analisada. Recomenda-se aos entes federativos uma ampliação da comunicação e do intercâmbio de experiências a favorecer o aprendizado mútuo e aproveitamento de soluções já implementadas, desenvolvendo comunicação estratégica, assim como enfatizar a coordenação e integração dos processos e fluxos.

Autor: Vanessa de Lima e Souza | Ano: 2018
  • Gestor de Saúde
  • Tomada de Decisões
  • Comunicação em Saúde
  • Gestão da Informação

O objetivo deste trabalho é discutir a participação social na definição da agenda de prioridades de pesquisa no campo das doenças negligenciadas, em especial a hanseníase. Tem como pressuposto a ideia de que o engajamento da sociedade na definição das prioridades em pesquisa não fez parte da realidade, em se tratando de luta política da sociedade civil organizada no campo da hanseníase, ao menos nos últimos vinte anos. Para tanto, na jornada a que este estudo se propôs, não era possível discutir a participação social em saúde no caso brasileiro, sem antes se ter um posicionamento relacionado ao tipo de participação sobre a qual se estava falando, uma vez que se registrou a presença de uma polifonia de sentidos para participação em/ou na saúde. Do ponto de vista da metodologia, este estudo traz como opção um hibridismo metodológico. Como método de abordagem, optou-se por traçar o Regime de Informação em torno da hanseníase, identificando atores, dispositivos, artefatos e ações de informação, na perspectiva de tentar investigar práticas eficazes no campo da hanseníase. Para esta análise, a tese se fundamenta também no aspecto da integralidade, que aqui é tomada como princípio/ação e perspectiva, na qual o Regime de Informação também está fundamentado. No que diz respeito à metodologia, este estudo ampara-se numa abordagem filosófica, cuja proposta busca esboçar uma genealogia dos atores, dispositivos, artefatos e ações de informação, dispostos no campo da hanseníase, a partir de um dado Regime de Informação, de modo a dar luz à arquitetura desse conhecimento tácito. Depois, lança-se mão do conceito de integralidade para problematizar tal arquitetura, amparado na perspectiva da eficácia sob o ponto de vista do usuário, tal como tem trabalhado historicamente, há cerca de 15 anos, o Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade (LAPPIS/UERJ) Trata-se da adoção da integralidade como princípio/ação do Sistema Único de Saúde (SUS), que é comungado pelo Regime de Informação, ou seja, é a adoção da eficácia como um processo vivenciado cotidianamente, através da perspectiva do usuário e não como um modelo ideal para implementação de políticas, conforme propõe o modelo biomédico, que, em boa medida, organiza toda a oferta de políticas de saúde no país. Nessa perspectiva, busca-se identificar os instrumentos constituintes desse campo, realçando seus limites e possibilidades, para a construção de novas práticas sociais e dispositivos institucionais, visando à ampliação dos canais de diálogo entre Estado, ciência e sociedade. Tomou-se como referenciais os conceitos de Estado ampliado, hegemonia, contra-hegemonia e sociedade civil em Gramsci; os conceitos de poder e dispositivo de Foucault; a leitura do regime de informação Gonzalez de Gomez; e, por fim, o conceito de integralidade em Pinheiro et al. Como corpus de pesquisa, o estudo volta-se para as atas ordinárias e extraordinárias do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que aqui é tomado como lócus privilegiado, inclusive por força de Lei (8142/1990), na qual se dão, diretamente, as relações entre Estado, ciência e sociedade. Além disso, também são analisados documentos disponíveis online no site do Morhan como forma de ampliar a percepção da luta da sociedade civil pela participação social na hanseníase. Assim, buscou-se identificar como e se a participação social na definição da agenda de prioridades em pesquisas se deu ao longo dos últimos vinte anos, visto que, em tese, é papel do Conselho a deliberação das políticas, inclusive de repasse financeiro. Nesse sentido, buscou-se saber como se deu esse processo, estabelecendo-se ou não canais de diálogo com a sociedade civil

Autor: Marcelo Luciano Vieira | Ano: 2015

Esta pesquisa sistematiza, caracteriza e avalia a problemática do acesso à informação e à comunicação como um dos instrumentos de implementação do acesso às políticas públicas de assistência farmacêutica (AF), com base na perspectiva teórica da Sociologia da Ação Pública e da Construção Social da Tecnologia. O objetivo foi de avaliar, entre os meses de fevereiro e julho de 2019, a disponibilização das informações nos websites das Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e do Ministério da Saúde (MS), e a potencialidade dessas informações, para fomentar o acesso à política de medicamentos essenciais no Sistema Único de Saúde. A despeito do fato da política da AF ter institucionalizado uma demanda social por meio da democratização de acesso a medicamentos essenciais para o conjunto da população brasileira, a tese a ser demonstrada consiste na afirmação de que se trata de uma política pública que ainda não incorporou a informação como elemento crítico para se alcançar o pleno acesso a medicamentos, sendo apenas mais um dado de realidade dentre os diversos aspectos críticos das políticas públicas no país, tais como: 1) as formas de comunicar as informações técnicooperacionais para o cidadão pelos operadores da política (gestores, técnicos e profissionais de saúde); 2) a complexidade operacional de parte dos governos federal e estaduais para que o cidadão tenha acesso ao medicamentos que precisam, e 3) os limites estaduais diversos na operacionalização dos instrumentos da política de AF Os estados de cada uma das cinco regiões geográficas do país analisados foram escolhidos a partir de dados de acesso à política de assistência farmacêutica pelo cidadão e do acesso à internet, dos estados, e do governo federal. Através de uma metodologia qualitativa, a política pública do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica foi avaliada à luz dos marcos legais que a regem, de governo eletrônico e da lei de acesso à informação, com foco na facilidade do acesso e na abrangência do conteúdo das informações, quando disponibilizadas, nas páginas eletrônicas das SES e do MS por meio de grades de leitura (formulário) construídas para a verificação de forma, conteúdo e linguagem de comunicação das mesmas. Com base na perspectiva teórica acolhida na pesquisa, conclui-se pela necessidade de uma ampla revisão crítica do modelo e da forma como a política de AF vem sendo implementada à fim de atender a todo e qualquer cidadão, garantindo o direito à saúde constitucionalmente instituído.

Autor: Tatiana Sanjuan Ganem Waetge | Ano: 2020
  • Acesso a Medicamentos Essenciais e Tecnologias em Saúde
  • Políticas Públicas de Saúde
  • Governo Eletrônico
  • Acesso à Informação

Este trabalho analisa como a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS), considerada a maior epidemia do século XX, foi tratada pelo O Globo e pela Folha de São Paulo no Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, 1 de dezembro, entre os anos de 1988 a 2013, desde o primeiro ano em que a data foi \201Ccomemorada\201D no Brasil até 25 anos depois, quando a epidemia completou 30 anos. Os jornais, muitas vezes, foram fonte segura de informação e, outras, a única referência sobre o assunto para a população. Igualmente, os jornais funcionaram como interface para que o governo, os profissionais da saúde, os pesquisadores e os movimentos sociais pudessem fazer chegar notícias até os brasileiros. Ao todo, foram 289 matérias, entre manchetes de primeira página, editoriais, matérias, artigos, reportagens e entrevistas relativas ao Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, direta ou indiretamente. Do montante reunido, destacamos 16 capas, por acreditarmos que a primeira página de um jornal é a vitrine, a cara com que o veículo se apresenta aos leitores, ou seja, tudo que se julga ter valor de notícia está presente nas capas dos jornais. Além das capas, há mais seis matérias do interior dos jornais, relacionadas às chamadas de capa, dos anos de 1992, 1996 e 2001, quando coincidentemente ambos os veículos publicaram matérias sobre a temática. A cobertura priorizou o cenário nacional e o discurso científico, relacionando os dados nacionais com os internacionais, entretanto reservou pouco espaço em suas capas para tratar do tema, ainda que tenhamos escolhido uma data de culminância. A mídia, cuja divulgação das notícias da saúde é muitas vezes problemática, cumpriu seu papel de levar informação ao seu público leitor, mas deixou abertos flancos sujeitos à penetração das questões morais e ideológicas

Autor: Ana Cláudia Condeixa de Araujo | Ano: 2016
  • Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
  • Imprensa
  • Jornalismo Científico

O objetivo desta tese é estudar a construção e o uso do portfólio, como dispositivo de comunicação e educação, em um curso de educação a distância, na formação de trabalhadores do Sistema Único de Saúde. O portfólio se constitui no que pode ser chamado um Dispositivo de Interação Virtual, que condiciona e, ao mesmo tempo, é condicionando por determinadas possibilidades de interações viabilizadas por ele. O portfolio possui distintos sentidos e significados, podendo ser tanto estratégia como instrumento, técnica ou processo, dependendo do uso que dele se faça e da área de conhecimento em que seja utilizado. No campo da comunicação ele é habitualmente utilizado para organizar as atividades relacionadas às artes gráficas, fotografia e publicidade.Na educação, é recente o uso do portfólio em seus múltiplos aspectos, seja como dispositivo, estratégia pedagógica, como instrumento e técnica, em diferentes formas de avaliação ou, ainda, como processo de ensino-aprendizagem. Daí, a relevância, pertinência e inovação de se investigar a construção do portfolio, por meio das interações, considerando-o um dispositivo de comunicação e de educação, nomeadamente de educação permanente em saúde, em um curso EaD na saúde, especificamente no Sistema Único de Saúde Optou-se aqui pela pesquisa qualitativa, buscando compreender as relações sociais a partir dos elementos afetivos, sociais e mentais que integram os diferentes contextos nos quais estão inseridas as pessoas, individual e coletivamente. O objetivo geral da tese foi problematizar o uso do portfólio, investigando sua construção e utilização como dispositivo de comunicação e educação, na formação dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde, visando ao seu aprimoramento. Foram aplicadas as técnicas de análise bibliográfica e documental aos documentos selecionados e a técnica de observação participante na Oficina de Formação Inicial de Tutores. A estratégia metodológica de Discurso do Sujeito Coletivo possibilitou a análise de 17 portfólios construídos e utilizados na referida oficina, do curso de especialização Ativação de Processos de Mudanças na Formação Superior de Profissionais de Saúde. Os resultados da pesquisa de tese tornaram evidentes e reconhecíveis a importância do uso do portfólio, das interações construídas a partir dele e das possibilidades criadas e exploradas por seu uso, pois, o portfólio foi considerado um dispositivo integrador, fortalecedor do processo de aprendizagem e de mudanças, sendo importante no registro e no estudo auto dirigido desse processo, além de ser importante na auto e hetero avaliação. Os resultados também evidenciaram sua subutilização e a necessidade de maior aprofundamento nas oficinas de formação inicial de tutores no referido curso Com esta tese, pretende-se contribuir para a sistematização de metodologias e estratégias de educação a distância, por meio da construção e uso do portfólio como dispositivo de comunicação e educação para uma formação crítico-reflexiva dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde, em consonância com o ideário da reforma sanitária, com seus princípios e suas diretrizes e com a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde no que concerne à formação de seus trabalhadores em acordo com a atenção integral à saúde

Autor: Maria Angélica Costa | Ano: 2013
  • Portfólio
  • Formação

A tese analisa o papel do cinema documentário produzido no contexto das lutas de movimentos sociais do campo que, de um lado, denunciam o uso intensivo dos agrotóxicos pelo agronegócio e seus impactos na saúde e, de outro, anunciam como alternativas a construção de outro modelo agrícola baseado na agricultura familiar e na agroecologia. Os documentários são compreendidos a partir de dois referenciais teóricos que envolvem e buscam articular duas dimensões, a comunicacional e a epistemológica. A primeira dimensão compreende os documentários como estratégia de comunicação e pluralidade de vozes, enquanto textos e contextos ancorados na teoria da produção social dos sentidos e em conceitos como dialogismo e polifonia provenientes da obra de Bahktin. A segunda dimensão incorpora a obra de Boaventura de Sousa Santos e sua proposta de epistemologias do Sul, incluindo conceitos como pensamento abissal, ecologia de saberes, sociologias das ausências e das emergências, e metodologias colaborativas não extrativistas. As dimensões comunicacionais e epistemológicas foram analisadas a partir de três lugares de interlocução, que se relacionam na produção dos filmes: a dos movimentos sociais, dos pesquisadores militantes principalmente no âmbito da saúde coletiva, e dos cineastas engajados nas lutas sociais. Foram selecionados três documentários para a análise de sua produção: “O Veneno está na Mesa”; “Chapada do Apodi, Morte e Vida”; e “Nuvens de Veneno”. A partir de entrevistas com representantes estratégicos dos movimentos sociais, dos cientistas e dos cineastas, foram analisados o contexto (condições de produção) e o texto (o filme em si a partir das cenas que os compõem) para cada documentário e em seu conjunto. Na análise conjunta dos filmes foram destacadas três questões de interesse: polifonia e sociologia das ausências, ecologia de saberes, e por fim metodologias colaborativas não extrativistas. Concluímos que os documentários analisados contribuem, pela capacidade de reunir ciência, arte e ética com práticas de co-labor-ação, co-produção e cocriação para criar novas estratégias comunicacionais e epistemológicas.

Autor: Marina Tarnowski Fasanello | Ano: 2018
  • Documentários Cinematográficos
  • Conhecimento
  • Agricultura Sustentável
  • Práticas Interdisciplinares

O ordenamento da formação dos profissionais de saúde é uma das competências constitucionais do Sistema Único de Saúde. A partir da criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, em 2003, iniciativas do ensino, da gestão e dos movimentos populares no campo da formação e qualificação dos trabalhadores de saúde foram reunidas, sistematizadas e orientaram a elaboração da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS). A PNEPS preconiza a formação para o trabalho, pelo trabalho e no trabalho. A Rede Unida é um movimento social contemporâneo à Reforma Sanitária Brasileira que reúne pessoas, instituições e movimentos populares em torno de experiências identificadas com a educação permanente em saúde. Sua dinâmica de funcionamento privilegia a troca de experiências para a produção de conhecimento sobre a realidade do sistema e serviços de saúde. Uma das expressões deste conhecimento está registrada como trabalhos apresentados em seus encontros e congressos Nesta investigação os trabalhos publicados em Anais dos últimos três congressos da Rede Unida, em 2009, 2010 e 2012, foram analisados visando descrever as relações de autoria, vinculação institucional e temáticas presentes nesta produção e explorar formas de visibilização deste conhecimento. Foram encontradas formas mais tradicionais de produção do conhecimento, baseadas na ciência normal, em co-existência com a produção de conhecimento em rede, entre instituições e atores sociais heterogêneos e voltada para contextos locais, caracterizando a natureza mestiça desta produção. Tal forma de conhecimento demanda abordagens inovadoras voltadas ao seu modo de produção, disseminação e comunicação no campo da ciência e na sociedade, a exemplo do uso extensivo da internet e suas formas de indexação orientadas ao usuário

Autor: Rafaela Cordeiro Freire | Ano: 2013
  • Produção do Conhecimento
  • Educação Permanente em Saúde
  • Informação em Saúde

Introdução: A agricultura brasileira é uma atividade econômica que gera receitas para o Brasil na ordem de bilhões de dólares realizada por 15 milhões de trabalhadores. Porém, o País ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de uso de agrotóxicos com aumentos progressivos nos últimos dez anos associados ao crescimento da incidência de intoxicações por agrotóxicos na população. Pesquisadores evidenciaram que este modelo agrícola químico-dependente gera danos ambientais, adoecimento da população agrícola e efeitos sociais negativos. Objetivos: 1) reunir evidência científica relevante sobre os principais agravos à saúde associados à exposição ocupacional aos agrotóxicos; 2) comparar as condições de vida, de trabalho e o acesso aos serviços de saúde, entre trabalhadores brasileiros agrícolas e não agrícolas; 3) comparar o padrão de adoecimento, de estilos de vida e de saúde bucal entre trabalhadores brasileiros agrícolas e não agrícolas. Métodos: Foram desenvolvidos três artigos. O primeiro artigo consistiu em uma revisão de literatura de estudos publicados entre 2000 e 2017, nas bases bibliográficas: Pubmed, Embase e Lilacs. Estabeleceu-se como critérios de elegibilidade: a) estudos observacionais; b) população de trabalhadores agrícolas; c) exposição ocupacional a agrotóxicos; d) desfecho, definido como agravos à saúde; e) uso de testes estatísticos para comparação de expostos com não expostos; f) idiomas inglês, português ou espanhol. O segundo e o terceiro artigo foram desenvolvidos com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2013) com uma amostra representativa da população ocupada, classificada em trabalhadores agrícolas (n=3755) e não agrícolas (n=33300) Para o segundo artigo utilizaram-se variáveis sobre condições de vida e trabalho, sóciodemográficas, econômicas e de acesso aos serviços de saúde. E para o terceiro artigo foram analisadas morbidades autorreferidas, variáveis de estilos de vida e saúde bucal. Em ambos os artigos empregaram-se testes estatísticos para comparar as proporções entre os trabalhadores agrícolas e não agrícolas, considerando-se o desenho complexo da amostragem. No artigo três, calcularam-se as prevalências brutas e padronizadas por idade e sexo para as DCNT e seus IC. Resultados: No primeiro artigo foram identificados 132 estudos (21 no EMBASE, 45 na LILACS e 66 no PUBMED). Destes, 54 publicações foram elegíveis e, posteriormente, foram adicionados cinco estudos totalizando cinquenta nove manuscritos (33 estudos transversais, 22 de coorte e 04 caso-controle). Os estudos revelaram associações significativas entre exposição aos agrotóxicos e condições subclínicas, doenças crônicas e sinais e sintomas de envenenamento em trabalhadores agrícolas. No artigo segundo, os trabalhadores agrícolas apresentaram piores condições de vida, menor poder aquisitivo, maior exposição à radiação solar e agentes químicos e maior frequência e gravidade de acidentes de trabalho em comparação aos não agrícolas. A população agrícola teve maior cobertura da ESF, buscou atendimento médico no SUS para tratar doenças, enquanto a não agrícola, buscou atendimento médico privado para ações preventivas O terceiro artigo revelou que os trabalhadores agrícolas, em comparação aos não agrícolas, apresentaram maior prevalência de problemas na coluna e menor de asma/ bronquite. Para as outras DCNT não houve diferenças significativas. Os trabalhadores agrícolas, em relação aos não agrícolas, relataram maior proporção de autoavaliação de saúde (AAS) não boa, de limitação das atividades habituais por doença crônica de longa duração e maior número de DCNT. Em relação aos estilos de vida, os trabalhadores agrícolas apresentaram maiores prevalências de tabagismo e inatividade física no lazer, menor consumo de FLV, proporção alta de excesso de peso e obesidade, quando comparados aos não agrícolas. Quanto à saúde bucal, ocorreu maior percentual de AAS bucal não boa, menor frequência de escovação de dentes e maior perda dentária nos trabalhadores agrícolas, quando comparados aos não agrícolas. Conclusão: a população agrícola é negligenciada quanto às ações para melhoria das condições de vida, possui piores condições de trabalho, porém com padrão de adoecimento semelhante às populações não agrícolas. Tais achados indicam a necessidade de se atuar sobre as determinações do processo saúde-doença com a finalidade de promover e proteger a saúde desse grupo de trabalhadores. Igualmente importante é promover a vigilância da saúde da população agrícola por meio de inquéritos periódicos que coletem informações sobre a exposição aos agrotóxicos, morbidade referida, além de exames laboratoriais de genotoxicidade que possam medir condições subclínicas.

Autor: Fernanda de Albuquerque Melo Nogueira | Ano: 2020
  • Saúde da População Rural
  • Agroquímicos
  • Doenças não Transmissíveis
  • Inquéritos Epidemiológicos
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