A centralidade que as mídias ocupam nas vidas das pessoas e das instituições é uma característica marcante do nosso tempo, que se expressa em todos os níveis de sociabilidade. Há décadas, os meios de comunicação de massa comandados por conglomerados ditam comportamentos e tendências sociais, moldam contextos políticos e econômicos, formam opinião pública, pautam - ou agendam - a sociedade. Neste início do século 21, a entrada definitiva da internet no dia a dia da maioria da população, no mundo e no Brasil, amplia a participação de pessoas comuns, desvinculadas dos centros hegemônicos que tradicionalmente concentram o poder de fala, na dinâmica de produção e circulação de sentidos. Esse cenário - agravado pela pandemia de covid-19 - organiza novas configurações sociotécnicas que implicam transformações profundas nas formas de se relacionar e se comunicar, inclusive no campo da Informação e Comunicação em Saúde. Com o objetivo de contribuir com a compreensão dos efeitos da midiatização da sociedade sobre o campo da Informação e Comunicação em Saúde e suas implicações sobre como as instituições sanitárias se organizam e interagem, propomos uma leitura do conceito de midiatização inspirada em autores brasileiros e estrangeiros - Bourdieu (1989), Braga (2012), Carlón (2017), Fausto Neto (2012), Hjarvard (2012), Sodré (2002, 2017) e Verón (1993, 2012, 2014) - e aplicado ao campo da Informação e Comunicação em Saúde a partir de arcabouço teórico traçado por Araújo (2015), Araújo e Aguiar (2017, 2020), Araújo e Cardoso (2007), Sacramento (2017) e Zoya e Petracci (2018a, 2018b). Como ponto de partida, elencamos quatro premissas que nos ajudam a compreender as características da midiatização em contextos específicos, como o da pandemia de covid-19: (1) a midiatização é um processo histórico, situado concretamente no tempo e no espaço; (2) a midiatização não se dá, apenas, pelas tecnologias em si, mas sobretudo pelas invenções sociais dadas a elas, uma combinação que altera sobremaneira a circulação discursiva; (3) na sociedade midiatizada como multimídia um campo social inovador e independente, que regula o funcionamento e a interação dos demais campos sociais; (4) nesse processo, um habitus midiático se instala na sociedade, na estrutura dos campos sociais, no funcionamento das instituições e nas vidas das pessoas, atualizando a disputa pelo poder simbólico de fazer crer e fazer ver (BOURDIEU, 1989) a partir da por capital midiático concorrência. Empiricamente, desenvolvemos estudo de caso sobre o Observatório de Saúde na Infância e concluímos como as quatro proposições teóricas se manifestam nas práticas e nas disputas do campo da Informação e Comunicação em Saúde.
SOBREIRA, Isabel Levy. Midiatização da saúde: estudo de caso do Observatório de Saúde na Infância. 2023. 106 f. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde) - Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2023.