O câncer de mama é o tipo de câncer com a segunda maior incidência no Brasil, atrás do câncer de pele não melanoma. É a principal causa de morte por câncer na população feminina na maioria das regiões do país, com destaque para as regiões Sudeste e Sul. No município do Rio de Janeiro, a estimativa da taxa bruta de incidência para câncer de mama feminina é de 130 por 100 mil habitantes em 2023, a maior entre todas as capitais do país. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), a indicação é de que a mamografia de rastreio seja realizada a cada dois anos para mulheres de 50 a 69 anos e para a mamografia diagnóstica, mulheres com sinais e sintomas suspeitos para esse tipo de neoplasia, independente da idade. Um diagnóstico em tempo oportuno possibilita maior sobrevida e menor morbidade, porém condições socioeconômicas, comunicacionais, geográficas, bem como questões de emergência em saúde pública podem trazer barreiras à descoberta precoce de doenças, em especial das neoplasias. Esta pesquisa analisa as desigualdades nas solicitações de mamografia por meio do Sistema Nacional de Regulação (SISREG) no município do Rio de Janeiro e seus determinantes, como o impacto de campanhas, da infraestrutura do sistema de saúde primária, e o efeito da pandemia da Covid19 no represamento dessas solicitações. O estudo adota uma abordagem quantitativa exploratória e analisa dados de solicitações de mamografia (diagnóstica e de rastreamento). Foram comparados os volumes de solicitações nos períodos pré-pandêmico (2018-2019) e pandêmico (2020-2022) da Covid-19. No período analisado, foram registradas 436.036 solicitações de mamografia no SISREG, com a maior parte das solicitações concentrada na faixa etária de aproximadamente 50 a 70 anos Destaca-se o baixo volume de mamografias solicitadas, considerando que apenas para a mamografia de rastreamento seria necessário realizar cerca de 400.000 exames por ano no município. Observou-se uma queda significativa nas solicitações de mamografias durante os picos de casos e óbitos por Covid-19. Foi possível identificar também que as áreas com maior cobertura de Estratégia de Saúde da Família (ESF) tendem a apresentar maiores taxas de solicitação de mamografia, bem como os meses de outubro se destacam por terem os maiores volumes a cada ano. A pesquisa evidencia a importância do planejamento de serviços com base na análise espacial da rede de saúde a partir das estimativas populacionais e características do território, bem como a relevância do SISREG como ferramenta de gestão e monitoramento da saúde pública, sugerindo melhorias nas práticas de rastreamento e na gestão de recursos de saúde.
Esta pesquisa busca analisar como o jornal centenário O Estado de S. Paulo noticiou as pandemias de gripe espanhola, em 1918, e de covid-19, em 2020, e procura identificar as aproximações e as diferenças que emergem nos discursos das coberturas jornalísticas. Com foco na historicidade dos processos comunicacionais, o objetivo é identificar e compreender os sentidos que, ao longo do tempo, surgem sobre as duas doenças, a partir de algumas publicações do veículo. Assim, este estudo apresenta como hipótese inicial a perspectiva de que os discursos sobre as duas pandemias seriam similares, apesar da diferença temporal entre as enfermidades ser de pouco mais de um século. Levando-se em consideração contextos distintos, a principal pergunta que se buscou responder foi como o jornal O Estado de S. Paulo fez a cobertura jornalística das duas pandemias. Após levantamento do material no acervo do periódico, foram selecionados cinco momentos específicos, nos primeiros meses das duas doenças no Brasil, que ganharam espaço nas páginas do jornal (e na mídia em geral), e realizadas análises dessas coberturas. Para dialogar neste estudo, “convidamos” os autores Michel Foucault, Mikhail Bakhtin, Milton Pinto e Norman Fairclough, quando os temas trabalhados envolvem discurso, linguagem e relações de poder. Ana Paula Ribeiro, François Dosse, Marialva Barbosa, Maurice Halbwachs e Pierre Nora são acionados quando o debate abrange memória, história e comunicação, três áreas interrelacionadas nesta pesquisa. A partir dos conceitos trabalhados no referencial teórico, e após o olhar atento sobre o material jornalístico publicado pelo O Estado de S. Paulo, conclui-se que os discursos sobre a gripe espanhola e a covid-19 se assemelham em muitos aspectos, assim como os sentidos identificáveis A minimização e a negação das duas doenças, por exemplo, ocorrem nas páginas do periódico em 1918 e 2020, mas somente no começo da chegada das pandemias ao país porque, em poucas semanas, a realidade se impõe: a gravidade de ambas as enfermidades fica explícita, tanto no início do século passado, quando o jornal quase fechou por causa da gripe espanhola, quanto no primeiro ano da covid-19 no Brasil.
O contexto brasileiro carrega marcas do escravismo ainda não superado e contribui para a perpetuação das relações assimétricas, produzindo uma sociedade acentuadamente desigual. Pensando nas ramificações que a desigualdade assume, à luz da dimensão da saúde, o presente trabalho explorou quatro aspectos fundamentais: (i) como as desigualdades se expressam através das Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP); (ii) a importância da informação em saúde para o enfrentamento das desigualdades; (iii) a relação entre raça e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, e; (iv) situação geográfica que informa onde se concentram as desigualdades mais expressivas que se desenvolvem no campo da saúde que contemplam a linha investigativa da pesquisa. O estudo foi desenvolvido a partir das seguintes metodologias: (i) Revisão Bibliográfica sobre raça e saúde, ICSAP por raça/cor, vulnerabilidades sociais e desigualdades; (ii) Análise da informação sobre raça nos sistemas de informações em saúde; e (iii) Análise das desigualdades raciais e espaciais expressas através das ICSAP com dados dos sistemas de informação em saúde. Para isso, o trabalho contará com a análise dos anos de 2010, 2016 e 2022 para investigar a evolução da aplicação do indicador acima expresso a partir do atributo raça/cor, se amparando no uso do QGis (software livre) e obtendo como resultado final, a elaboração de mapas para registrar a distribuição das ICSAP nos municípios brasileiros. A escolha dos anos anteriormente citados foi realizada levando-se em conta a informação usada para Densidade Racial (Censo Demográfico 2010), a partir da avaliação de todo o período até o ano com as últimas informações disponíveis quando a dissertação estava sendo elaborada (2022) Para avaliar as tendências no período, houve a inclusão do ano intermediário (2016). Destaca-se neste âmbito a discussão sobre como as ICSAP se relacionam a diferentes concentrações da população por cor/raça nos municípios brasileiros, expressas pela densidade racial, além da qualidade da informação sobre cor/raça no Sistema de Informações Hospitalares (SIH). Por último, a pesquisa destaca as ICSAP como expressões das desigualdades sociais, raciais e espaciais, contribui para a qualidade da informação em saúde através da melhoria do preenchimento da variável de raça/cor nos sistemas de informação em saúde.
A pandemia de Covid-19 trouxe a ciência para o foco de todas as conversas e veículos de comunicação. Em um momento em que a ciência desempenhava papel crucial na busca de informações e compreensão sobre a doença, processos científicos foram evidenciados e as divergências de opinião e pesquisas refutadas movimentaram bastante a sociedade gerando um impacto misto na percepção pública da ciência, destacando tanto sua importância quanto suas limitações e desafios. Quando se trata de populações vulnerabilizadas, diante de uma emergência sanitária, as inequidades e disparidades ficam muito mais evidentes. Como essas comunidades são invisibilizadas e negligenciadas pelas prefeituras, as organizações não governamentais locais buscam apoio e formas de amenizar a situação da comunidade. Diversas organizações e coletivos se mobilizaram para informar e comunicar de forma clara e objetiva a população, auxiliando e orientando os moradores em diversas questões sociais e de saúde, conseguindo parcerias para o enfrentamento da pandemia. Diante disto, este trabalho teve como objetivo analisar a percepção da ciência no Complexo da Maré, buscando identificar se/e de que forma a divulgação científica realizada na comunidade gerou impacto nessa percepção e no engajamento em pesquisa científica. A metodologia envolve pesquisa exploratória quantiqualitativa na comunidade, com a amostra de participantes escolhida por conveniência. Os participantes demonstraram otimismo em relação a ciência, confiando em médicos e cientistas. As conclusões ressaltam a importância da divulgação científica acessível em comunidades vulneráveis, através de estratégias mais eficazes de comunicação e esforços contínuos para estreitar a relação entre a comunidade científica e a sociedade A pesquisa contribui para o entendimento da percepção pública de ciência, evidenciando a eficácia da divulgação científica na promoção do engajamento comunitário em pesquisas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), o grande volume de informações on-line favorece a desinformação, podendo multiplicar-se exponencialmente em pouco tempo, como ocorreu durante a pandemia de Covid-19. Nesse sentido, enfrentar os desafios do excesso de informação na internet torna iminente o desenvolvimento de políticas que promovam habilidades individuais e coletivas para tomada de decisão, principalmente, quando mais se precisa. Dentro deste cenário, temos a Literacia Digital em Saúde (eHealth Literacy), como um dos instrumentos fundamentais nesse aperfeiçoamento. E, o objetivo desta dissertação foi identificar as práticas de consumo virtual de informação e desinformação em saúde, em um público maior de 18 anos, com acesso às redes sociais, bem como avaliar os níveis de Literacia Digital em Saúde (LDS) desta população e sua associação com características sociodemográficas. Para isso, foi feito um estudo transversal, descritivo, com aplicação de questionário em formato online. Os resultados revelaram que no quesito informação, uso e consumo, via Internet, a maioria dos respondentes tem conhecimento quando o assunto é desinformação e fake news (notícias falsas). Da mesma forma, 78,1% disseram buscar informações em sites oficiais de saúde pública. Entretanto, a pesquisa sugere a existência de disparidades importantes, revelando que os determinantes sociais contribuem na forma como se dará o acesso das pessoas aos serviços de saúde. Assim sendo, em relação à cor da pele, ao comparamos esta característica com os níveis de literacia digital pudemos constatar que o grupo significativamente com maior pontuação foram os de pele de cor branca, totalizando 79,0% nesta categoria Além disso, tivemos associação positiva entre os níveis de literacia digital e a renda, com uma tendência de aumento na classificação dos níveis de LDS, à medida que a renda dos participantes aumentava.
A Atenção Primária à Saúde (APS) é o primeiro contato com o sistema nacional de saúde e a primeira etapa em uma construção contínua de atenção. A APS está embasada em um cuidado à saúde preventivo, integral, que enfatiza que a atenção do profissional de saúde esteja mais próxima do ambiente sociocultural dos indivíduos e famílias para a prevenção e o controle do adoecimento. Nesse contexto, a Prática Baseada em Evidências (PBE) se faz essencial, uma vez que tem como definição a utilização da melhor evidência científica para auxiliar na tomada de decisão clínica, possibilitando um atendimento eficaz de acordo com a necessidade do usuário e/ou de sua comunidade. Pesquisas recentes têm reconhecido a importância da PBE na APS e, consequentemente, no sistema de saúde, mas poucos estudos abordam a PBE nesse contexto. Frente a essa lacuna na literatura brasileira, este estudo tem como objetivo analisar o uso da PBE por profissionais de saúde que atuam no contexto da APS, realizando um estudo de caso em quatro Unidades Básicas de Saúde localizadas no município do Rio de Janeiro, RJ, por meio de um questionário que conta com 38 perguntas, divididas em cinco partes, a saber: Perfil profissional e sociodemográfico; Prática profissional; Prática Baseada em Evidências; Atitudes relacionadas à Prática Baseada em Evidências; Conhecimentos e habilidades da Prática Baseada em Evidências. Conclui-se que os profissionais de saúde reconhecem a relevância da PBE no âmbito da atenção primária em suas unidades, no entanto tais práticas são realizadas, na maioria das vezes, pelos Protocolos/Guias do MS, somadas a uso de evidências de acordo com a habilidades/ treinamento de cada um. Muitos dos profissionais não utilizam as terminologias oriundas da PBE, apesar de estarem próximos de suas premissas em suas ações diárias, o que demonstra que os participantes têm potencial para aderir a este resolutivo referencial para sua ação, mas ainda não possuem conhecimento a respeito de seus preceitos metodológicos.
A cobertura jornalística da Covid-19 foi concentrada, em grande parte, na divulgação de dados quantitativos, mais especificamente epidemiológicos, que colaboraram para o conhecimento e conscientização do andamento da pandemia e seu enfrentamento a partir do ano de 2020. O presente estudo buscou conhecer algumas das possibilidades que foram exploradas na produção jornalística relacionada à sua disponibilização e publicização, a partir de uma perspectiva advinda do jornalismo de dados. Nesse sentido, adotando-se metodologias exploratórias e analíticas, incluindo uma proposta de análise de conteúdo e exploração documental, analisou-se parte desse processo de reunião, análise e visualização dos dados relativos à Covid-19 no Brasil, considerando-se que durante esse período a sociedade e todas as esferas públicas relacionadas à comunicação e informação foram impactadas por processos de necropolítica, negacionismo científico e ataques ao Sistema Único de Saúde (SUS). Foram estudadas iniciativas como painéis epidemiológicos independentes e o consórcio de veículos brasileiros de imprensa, que surgiram em momentos de indisponibilidade de dados e informação pública confiável. Dois veículos desse grupo, os Portais G1 e UOL, no período de julho de 2020 e abril de 2021, tiveram matérias analisadas para se compreender mais sobre esses atores e as características de como esses dados foram apresentados ao público. Discutiremos os resultados, implicações, limites e desafios dessa comunicação baseada em dados no contexto das disputas informacionais e políticas mencionadas, buscando-se uma compreensão do assunto à luz de conceitos do direito à informação, à comunicação e à saúde.
Este trabalho se propõe a discutir quais as influências que o ativismo e o ciberativismo podem exercer nas micropolíticas, como a aprovação de leis e implementação de políticas públicas. Neste caso, estudamos a crescente disputa de narrativas das mulheres na internet, promovendo articulação e estratégias para avançar nos direitos da Saúde da Mulher. O grupo escolhido foi o movimento de doulas do Estado do Rio de Janeiro, que conseguiu coadunar as lutas nas redes e “nas ruas”, aprovando a Lei das Doulas. Observou-se assim, que o ciberfeminismo pode se tornar uma estratégia de articulação dos movimentos feministas, que buscam conquistas no âmbito dos direitos das mulheres.
Esta dissertação tem como propósito analisar os fluxos dos discursos produzidos por um grupo brasileiro, antivacinação, em uma rede social online, o Facebook, examinando de que forma tais enunciados dialogam com os discursos sobre imunizações e produtos interdiscursos que estão imersos em nossa prática social discursiva . Pretendemos compreender em que medida a nossa sociedade, ao assumir características neoliberais, marcadas pela lógica da responsabilização individual, do autocuidado e do risco, tornando-se mais sensível e aderente (ou não) às políticas públicas de saúde. Para isso, analisamos as 10 postagens mais curtidas e comentadas (durante o período de um ano \2013 abril de 2016 a abril de 2017) do grupo \201CO lado obscuro das vacinas\201D, utilizando a ferramenta Netvizz, aplicativo gratuito e colaborativo do próprio Facebook. Esse trabalho analítico propõe a articulação dos conceitos de governamentalidade; biopolítica e biopoder; risco; além dos estudos sobre construção das identidades, proposta por Hall, e sobre o sujeito contemporâneo, proposto por Giddens e Bauman. A estratégia metodológica, portanto, baseia-se na análise dos fluxos dos discursos à luz do pensamento foucaultiano, com contribuições sobre o conceito de risco trazido por Lupton, Rose e Beck Nossas análises nos mostram que o tema da (anti)vacinação está inserido na relação entre o indivíduo e o coletivo, entre o público e o privado; tensão essa atravessada, na contemporaneidade, por uma falta de confiança nas representações de autoridade: nos governantes, nas instituições, na grande mídia, nas recomendações médicas, na indústria farmacêutica. Este debate trata, portanto, da perspectiva das práticas e lógicas que regem a sociedade contemporânea, da produção dos sujeitos e, sobretudo, das identidades que os discursos constroem a partir de si mesmos, pois são por excelência fundantes. Com isso, contribuímos para a reflexão sobre como as redes sociais deslocam as formas tradicionais de se pensar a comunicação, uma vez que funcionam não apenas como alternativa para a divulgação de informações oficiais ou não, mas também como lugar de compartilhamento de angústias, medos , riscos e ideias, espaço propício à interação, ao autocuidado, à autoajuda e à mobilização social, estimulando debates livres de territórios físicos, sem exposição da face, com expressivo alcance e baixo investimento. E isso pode fazer compensar as estratégias de comunicação empregadas,sobretudo no campo da Comunicação e Saúde.
A variação regional possibilita a análise das regiões de saúde e a percepção da variação injustificada, que demonstra uma sobreutilização ou subutilização do sistema, acarretando um desperdício ou dificuldade de acesso dos cidadãos, respectivamente. Características socioeconômicas e demográficas, como IDH, cobertura de saúde suplementar e densidade demográfica; estruturais, como médicos cardiologistas, leitos e unidades hospitalares; e geográficas, como a distância percorrida para realização do procedimento e o fato do procedimento ser realizado fora ou dentro da região, auxiliaram nas análises das regiões de saúde. Foram geradas tabelas, gráficos e mapas para melhor elucidar as informações dos sistemas oficiais de informação, disponíveis para acesso público no DATASUS, IBGE e PROADESS. Conclui-se que as regiões de saúde, mesmo sendo existentes com o intuito de organizar o território e provar serviços e equipamentos dantes impossíveis para alguns municípios isoladamente, não estão conseguindo cumprir o papel na atenção cirúrgica às doenças cardiovasculares. Foi observada uma variação significativa regional, com algumas regiões realizadas quase 50 vezes mais angioplastias que outras e cerca de 30 vezes mais revascularizações do miocárdio. Grande parte das regiões de saúde não realiza esses procedimentos, tendo seus cidadãos que os procedimentos em outra região de saúde realizam, percorrendo por vezes distâncias que chegam a 4 mil milhas. Desta forma, a análise da variação regional ajuda a detectar a necessidade de investimentos estruturais e de fixação de profissionais em diversas regiões da saúde que não possuem capacidade de suprir as necessidades de seus cidadãos adscritos.
O gênero é um marcador social da diferença. Ele é hierarquizado e, consequentemente, grupos de pessoas, atividades, hábitos, profissões e instituições são desvalorizados em nossa sociedade. Essa desvalorização contribui para desigualdade social e repercute também na saúde. A desigualdade social em saúde é marcada pela injustiça, quando um indivíduo ou grupo está em desvantagem de condições para manter-se saudável. Como grupo social desvalorizado, pessoas transgêneras são alvo de muito tipos de violência e de invisibilização de suas demandas. O discurso científico, que cria oposições binárias de gênero, tem naturalizado e localizado a verdade sobre o gênero nas estruturas corporais. Neste contexto, o objetivo da pesquisa foi caracterizar os modos de visibilidade de pessoas trans na produção científica brasileira. Para tanto, foi delineado um panorama da produção científica brasileira a respeito da transgeneridade e estabelecido um vínculo entre as formas de visibilidade das pessoas transgêneras e a desigualdade em saúde. A metodologia empregada consistiu na busca por estudos nas fontes de informação científica multidisciplinares SciELO CI, WOS e SCOPUS; na análise de autores, instituições, áreas do conhecimento e os países que pesquisam em colaboração com o Brasil; na análise de assuntos; e na análise bibliográfica de temas como feminismo, estrutura social da ciência e visibilidade O corpus encontrado foi de 293 estudos. Dos 10 autores mais produtivos, as duas primeiras são vinculadas a mesma instituição e têm juntas mais da metade dos estudos sobre pessoas trans da instituição a que pertencem. O número de estudos publicados cresce a cada ano e 2016 se destaca com mais publicações. O Estados Unidos é o país que mais produz em parceria como Brasil e há uma predominância de estudos das áreas das Ciências da Saúde. Foram identificados 17 assuntos, sendo possível perceber os temas e as tendências dos estudos sobre transgeneridade. Os modos de visibilidade e a desigualdade em saúde puderam ser discutidos a partir desse contexto de produção e da análise de assuntos. Dentre as conclusões, estão a necessidade da melhoria do atendimento integral em saúde, a importância do fomento à pesquisa, a necessidade de discussão de gênero nas escolas e o cuidado ao nomear grupos estigmatizados.
Discutimos sobre a violência, desde aspectos conceituais, até as suas interfaces com a saúde, sobretudo em sua dimensão simbólica, em uma rede social na internet. Analisamos a página "Homossexualismo" disponível no site rede social Facebook. Entendemos que o desenvolvimento da tecnologia, na figura da internet, trouxe consigo mudanças que influenciaram o comportamento dos usuários. Com o advento da web 2.0, as formas de publicar, compartilhar, e organizar informações foram potencializadas. A expressão máxima desta evolução são os sites de redes sociais, que definiram novas maneiras de comunicação e socialização. Se por um lado este desenvolvimento da tecnologia trouxe aspectos positivos, por outro lado possibilitou que a violência, sobretudo em sua dimensão simbólica, encontrasse um meio para ser praticada online. Esta violência assume formas mais cruéis em grupos marginalizados, como é o caso dos homossexuais, que por desviarem de uma norma cultural "heteronormativa" tida como "dominante", são deslegitimados e cerceados em seus direitos. Para o desenvolvimento desta pesquisa realizamos um estudo exploratório, apoiado na técnica etnografia virtual. Desta maneira mapeamos os principais discursos encontrados na página do facebook, correspondente ao período de 11 de dezembro de 2015 à 11 de fevereiro de 2016. Os achados versaram sobre cinco categorias: conduta homossexual, origem, família, definição de homofobia e cura-gay. Constatamos violência simbólica em todos os discursos.
Este trabalho tem como objetivo investigar qual é a abordagem da mídia jornalística impressa brasileira quando se trata de longevidade saudável. Apesar de os veículos analisados, em parte, fazerem promoção da saúde, sua cobertura jornalística ainda não encontrou uma maneira abrangente de discutir o tema, sendo, por vezes, generalista e referendando uma hiperprevenção acrítica, segundo a medicalização da vida. Para tanto, este trabalho tomou como material empírico 12 exemplares de revistas impressas (seis da revista Vida e Saúde, da editora Casa Publicadora Brasileira, e seis da revista Saúde É Vital, da editora Abril, nos períodos de 2004 e 2014). Usando pesquisa bibliográfica e o método da Análise de Conteúdo, foram criadas categorias e subcategorias, a fim de que se realizasse uma análise minuciosa de 70 textos, bem como de 150 propagandas selecionadas.
Vive-se uma era de incertezas, onde as classes sociais em muitos casos não mais determinam os riscos de saúde aos quais a população está exposta e a ciência é vista de forma ambígua, sendo considerada tanto como a salvadora, quanto como a culpada por grandes problemas atual da humanidade. Desta forma, o movimento de compreensão pública da ciência surgiu da necessidade dos pesquisadores em ampliar o acesso e a compreensão aos resultados de suas pesquisas junto à população leiga. O mais destacado pesquisa filosófica nesta direção entre ciência e sociedade. A ideia é que, possuindo maior conhecimento sobre a natureza e/ou resultados da pesquisa científica, a população poderá tomar decisões melhor orientadas sobre hábitos e atitudes que poderão afetar diretamente sua qualidade de vida. Neste sentido, destaca-se aqui o conceito de competência informacional em saúde, que abarca um conjunto de habilidades cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos de ter acesso, compreender e utilizar informação de forma a promover e manter a saúde. Nesta perspectiva, o presente trabalho investiga o potencial da abordagem lúdica do palhaço como estratégia para a promoção da aproximação entre ciência e sociedade, com relação a problemas de saúde da terceira idade.
No contexto brasileiro, aproximadamente 30% da população idosa depende da assistência para realizar atividades cotidianas, geralmente desempenhada por familiares cuidadores, com um histórico atribuído majoritariamente às mulheres. A disparidade no cuidado é acentuada por fatores raciais, impactando de forma desproporcional as mulheres negras. Apesar da Constituição Federal destacar a responsabilidade conjunta da família, sociedade e Estado no amparo as pessoas idosas, o cuidado continua preponderantemente dentro do âmbito familiar. A discussão dos conceitos de ignorância epistêmica e agnotologia ressalta a necessidade de analisar a produção de informação sobre o tema em nível nacional. A epistemologia da ignorância revela como o conhecimento acerca de grupos específicos, como mulheres e suas realidades, pode ser marginalizado devido a dinâmicas de competência na produção do saber. O paradigma do cuidado aborda a ausência de reconhecimento e remuneração do trabalho, principalmente executado por mulheres, resultando em subestimação e invisibilidade. A carência de informação sobre as condições de vida dos familiares cuidadores revela uma lacuna no conhecimento. O estudo, de natureza qualitativa, objetiva analisar as perguntas sobre familiares cuidadores presentes em inquéritos, utilizando a perspectiva da Sociologia das Estatísticas. A pesquisa visa investigar a produção de informação e conhecimento científico sobre os familiares cuidadores de pessoas idosas no Brasil nas primeiras décadas do século XXI. A metodologia empregada será a revisão integrativa, com base no diagrama de fluxo e no checklist PRISMA, cobrindo o período de 2001 a 2022. As bases bibliográficas utilizadas serão a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MedLine/PUBMED).
Esta pesquisa tem como objetivo caracterizar a produção científica sobre a saúde de mulheres lésbicas a partir de métodos bibliométricos, buscando compreender a dinâmica de produção de conhecimento sobre a temática e desvelar as maneiras pelas quais a ciência tem abordado a saúde desse grupo social. Utiliza como método a pesquisa bibliométrica, com caráter exploratório e descritivo, e abordagem quali-quantitativa, tendo como objeto de análise publicações científicas recuperadas a partir de pesquisas nas fontes de informação Scopus e Web of Science. Apresenta uma reflexão sobre a construção dos discursos sociais sobre as lésbicas, traçando um panorama histórico sobre a homoafetividade feminina no mundo ocidental, da Antiguidade aos dias atuais. Aborda os três principais paradigmas que direcionaram os discursos coletivos sobre as relações entre mulheres, são eles: o discurso religioso, o discurso médico e o político. Apresenta os estudos métricos da informação, suas origens, métodos, funcionalidades e principais aplicações. Os resultados demonstram que a saúde das mulheres lésbicas é um tema pouco explorado no Brasil, e apontam uma produção científica ainda incipiente, fruto de uma comunidade científica pouco estruturada. O panorama traçado através das publicações evidencia a tendência universalizante da abordagem da ciência sobre o tema, onde as especificidades em saúde da população lésbica são tratadas de maneira tangencial. Recomenda, por fim, o fortalecimento e estruturação da produção de dados e estudos científicos voltados para a saúde de mulheres lésbicas, bem como o envolvimento das esferas político-institucionais no estímulo aos esforços científicos voltados ao tema, por meio de editais e iniciativas de fomento.
Durante a pandemia da COVID-19, as desigualdades no acesso aos serviços de saúde desenvolveram-se para a propagação da doença no país, consequentemente fazendo com que o Estado do Rio de Janeiro registasse uma maior taxa de letalidade em comparação com outras unidades da federação do Brasil. Os desafios para obtenção de leitos e respiradores por parte da rede pública geraram inúmeras distorções e críticas em relação à distribuição dos recursos necessários, contribuindo para o cenário caótico vívido nos momentos de auge da epidemia no país. Este estudo teve como objetivo analisar como a pandemia impactou o acesso aos serviços de saúde e suas relações com as desigualdades na acessibilidade geográfica no estado do Rio de Janeiro em suas diferentes regiões de saúde entre os anos de 2020 e 2022. Trata-se de um estudo ecológico a fim de analisar como as desigualdades impactaram o acesso aos serviços de saúde a partir dos fluxos para internacionais e como foram evidenciadas pela pandemia da COVID-19. Para isso foram feitas revisões bibliográficas e análises de volumes de internações e fluxos para atendimento hospitalar nas Regiões de Saúde e municípios. Os resultados apontam que as desigualdades já existentes foram ampliadas com a pandemia da COVID-19, já que a procura pela atenção se estendeu à maioria dos municípios, por leitos clínicos e de terapia intensiva. Percebe-se que muitos municípios do Estado do Rio de Janeiro não possuem uma rede própria com recursos suficientes para oferecer a melhor qualidade de assistência em saúde. Conclui-se, portanto, que apesar dos avanços no processo de regionalização aos longos dos últimos anos, o estado do Rio de Janeiro carece de debates e políticas mais focadas na redução das desigualdades em saúde. Além disso, destaca-se que a pandemia da COVID-19 trouxe uma reflexão sobre uma integração fundamental de políticas públicas em saúde dos três entes federados (Governo Federal, Estados e Municípios), alterando medidas estratégicas para garantir o acesso à saúde de maneira integral e minimizando danos protetores as doenças emergentes e reemergentes.
Esta dissertação busca analisar como os programas Fantástico (TV Globo) e Domingo Espetacular (Record TV) construíram a ciência na cobertura sobre as vacinas da covid-19, considerando a acirrada disputa por sentidos num ambiente comunicacional marcado pelo intenso fluxo de informações, pluralidade enunciativa e polarização política. Uma das mais importantes estratégias para o enfrentamento da doença, as vacinas se tornaram também um dos alvos mais frequentes de informações enganosas que proliferaram na pandemia. Nesse contexto, estabelecemos como objetivos específicos mapear como a ciência, suas instituições e atores foram construídos no Fantástico e no Domingo Espetacular; analisar as relações tecidas entre o discurso científico e outros discursos; e caracterizar como os programas se posicionaram em relação à ciência e aos seus espectadores na cobertura sobre as vacinas da covid-19. Em nossa grade de análise, estabelecemos uma aproximação entre os modos de endereçamento no telejornalismo, propostos por Itania Gomes (2011), e a análise do dispositivo de enunciação, na perspectiva da Semiologia dos Discurso Sociais, principalmente as contribuições de Eliseo Verón (2004) e Milton Pinto (2002). Entre os principais resultados da análise das matérias veiculadas entre março de 2020 a agosto de 2021, destacamos as diferenças entre os dois programas, embora ambos tenham sido favoráveis às vacinas e à ciência. No Domingo Espetacular predominou a ênfase na associação da ciência com a esperança, a mobilização dos cientistas e a velocidade acelerada das pesquisas de vacinas, caracterizando uma ciência quase sem atritos internos ou externos, silenciando inclusive a intensa disputa política envolvendo o governo de São de Paulo e o então presidente Jair Bolsonaro O Fantástico também associou a ciência com a esperança, mas enfatizou a necessidade de cautela. Na tensão entre a urgência da pandemia e a necessidade de garantir a segurança e a eficácia das vacinas, mereceram destaque a metodologia científica e o conflito entre o campo científico e interesses políticos e empresariais, em explícita oposição às medidas do governo Bolsonaro.
A presente dissertação tem como objetivo iniciar um debate sobre a ausência de políticas de comunicação em saúde e dos estudos preocupantes à saúde do homem negro. Para tanto, verifica-se a ocorrência das discussões de gênero no contexto do Sistema Único de Saúde, com ênfase em ações que fazem parte do escopo da saúde pública e coletiva, como a Política de Saúde Integral da População Negra e a Política Nacional de Saúde do Homem. Nessa perspectiva, torna-se fundamental a purificação dos conceitos de “masculinidade hegemônica” e “masculinidades subalternizadas” para que seja possível, então, compreender o advento e a localização no imaginário social das masculinidades negras. Isto posto, intui-se verificar suas especificidades enquanto grupo social, de modo a localizá-lo no âmbito das disputas de poder que, atravessadas pelo racismo, pelo sexismo e pelo classicismo, conferem a esses sujeitos o esquecimento nas ações de saúde de organizações de promoção de políticas públicas, contribuindo, assim, com a ocorrência das manifestações da Necropolítica, apresentadas por Mbembe, do Racismo Estrutural, conceituado por Silvio de Almeida e, principalmente, do Genocídio do negro brasileiro proposto por Abdias do Nascimento. Foi, portanto, realizada a coleta de dados por meio do levantamento nos acervos do Portal de Periódicos da CAPES e do Banco de Recursos Audiovisuais em Saúde da VídeoSaúde. Dessa forma, analisamos, de forma crítica, os itens que abordamos em coerência com o tema da promoção à saúde do homem negro brasileiro e que possibilitaram levar à compreensão dos esforços realizados para alcançar esse grupo. Os resultados obtidos por meio do levantamento demonstram, porém, uma grande lacuna na produção acadêmica sobre o tema. Com isso, a pesquisa foi redesenhada, pautando-se na Metodologia da Problematização de Berbel e na análise de dados. Desse jeito, buscou-se compreender – com base na experiência da construção da pesquisa – como a saúde do homem negro é vista pela saúde pública brasileira. Constatou-se, assim, a negligência e a ausência de propostas de soluções a fim de corrigir os problemas existentes. Além disso, evidencia-se o potencial das ferramentas de busca, que traz a invisibilização de dados étnicos minoritários e os efeitos deletérios causados pela interseccionalidade entre raças, gênero e classe em um país que celebra a falácia da democracia racial.
O presente estudo teve como objetivo identificar as percepções dos pesquisadores quanto aos metadados de proveniência necessários para o reuso de dados de pesquisa de COVID-19. A metodologia consistiu na pesquisa bibliográfica em fontes de informação nacionais e internacionais que forneceu as bases teóricas da pesquisa e foi realizado um mapeamento das diretrizes internacionais para padrão de metadados para dados de pesquisa nas iniciativas internacionais Fairsharing (https://fairsharing.org/), Digital Curation Centre (DCC) (https://www.dcc.ac.uk/ ) e Research Data Alliance (RDA) (https://www.rd-alliance.org/), permitindo identificar os padrões de metadados utilizados na pesquisa em COVID-19 e a mapear as principais diretrizes apontadas na literatura para o tema. Foi elaborado instrumento de coleta de dados (questionário online) para verificar quais os padrões de metadados de proveniência apoiam os pesquisadores no reuso dos dados em COVID-19. Foram analisados os dados bibliográficos, as pesquisas dos repositórios, a percepção dos pesquisadores obtidos através do instrumento de coleta para identificar os padrões de metadados de proveniência que podem ser utilizados nas pesquisas sobre COVID-19. Verificou-se que realmente só temos padrões para determinada área ou campo de conhecimento e não diretrizes internacionais gerais. Constatou-se que que há um consenso por parte dos respondentes nas questões da importância da informação sobre tema ou palavra-chave; licença de uso, coletor de dados e preservação dos dados a longo prazo por parte dos repositórios, quanto aos metadados de proveniência necessários para o reuso dos dados de pesquisa em Covid 19.
Esta pesquisa nasceu com o objetivo de compreender a dimensão comunicacional das redes de apoio que as mulheres acionam e constituem para lidar com saúde mental em meio à pandemia. Em crises sanitárias, as mulheres estão entre os grupos mais vulneráveis aos impactos das desigualdades sociais, que se materializam em situações como maior dificuldade de acesso à saúde, exposição acentuada às violências visíveis ou não, desemprego, fome, perda de renda, sobrecarga decorrente das jornadas múltiplas de trabalho e ataques aos direitos conquistados anteriormente (Beauvoir, 1949). Este cenário é propício à produção de sofrimento psíquico e adoecimento das mulheres, por aumentar as vulnerabilidades e precarização da vida (Butler, 2011). Historicamente silenciadas, subalternizadas e violentadas de múltiplas formas, as mulheres sofrem com a negação de direitos e com diversas formas de silenciamento. De modo particular, as mulheres que convivem com sofrimento psíquico vivenciam o estigma e a deslegitimação das suas falas. Neste contexto, vemos o direito à comunicação como parte fundamental do direito à saúde, com duas dimensões: direito a informação e direito a voz (Araujo; Cardoso, 2007). Adotamos a perspectiva teórica de Araujo (2002) pela qual a comunicação opera como um espaço e um processo no qual e pelo qual as pessoas em diferentes posições sociais produzem sentidos, os fazem circular e deles se apropriam. Logo, o direito à comunicação é atravessado e demarcado por disputas simbólicas e negociações constantes. Adotamos o conceito de lugar de interlocução (Araujo, 2002), como eixo conceitual-metodológico para estudar as dimensões comunicacionais deste projeto, considerando que a distribuição do poder de fala é móvel e que uma pessoa pode se enquadrar em mais de um lugar, de acordo com seus contextos sociais, situacionais, institucionais e pessoais. A comunicação é, por esta via, um recurso central para a garantia de outros direitos que, no caso das mulheres, estão relacionados a como elas podem constituir e acionar suas redes de comunicação sobre cuidado para lidar com a saúde mental em meio à pandemia. A metodologia incluiu conversas individuais e coletivas com 8 mulheres que se identificam como cuidadoras parentais informais em saúde mental e vivenciaram alguma experiência em saúde mental, residentes em quatro cidades: Rio de Janeiro (RJ), Natal (RN), Salvador (BA) e Criciúma (SC). Nas rodas de conversa, experimentamos uma metodologia inclusiva, a partir da escuta e da perspectiva do protagonismo das mulheres, com base numa epistemologia decolonial, considerando-as participantes da pesquisa como coprodutoras do conhecimento produzido. Concluímos que as redes de comunicação e cuidado em saúde mental podem, em um primeiro momento, nascer como um braço das instituições de saúde, dentro dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) ou de projetos de extensão, mas se organizam e multiplicam de forma dinâmica. A comunicação é basilar na constituição, organização, compartilhamento e multiplicação dessas redes. As mulheres acionam redes ou são convidadas a participar delas por meio da indicação de amigas, conhecidas, familiares, chegam até às redes por meio do acesso à educação, do contexto profissional ou da militância, ou descobrem as redes guiadas pela necessidade de cuidar. Juntas, acabam criando e fortalecendo laços de amizades com outras mulheres também estão em situação de abandono pelo Estado, pelas famílias e são invisibilizadas pelas políticas públicas, ganham força, pela troca de conhecimentos, pela possibilidade de acessar determinados lugares e lutar pelo direito à comunicação. As redes de apoio são lugares em que essas mulheres trocam informações, compartilham referências de livros, vídeos, cartilhas, eventos e munidas dessa informação, conseguem sair um pouco da periferia discursiva na busca por posições mais centrais nos espaços em que elas transitam.
As novas tecnologias de informação e comunicação permitem o acesso, a produção e o compartilhamento de informações em qualquer tempo e lugar, sobre vários assuntos. Elas quebrando as barreiras físicas e geográficas, além de proporcionarem novas práticas sociais, políticas e econômicas. A saúde é uma das áreas em que há maior interesse dos usuários. Muitas informações de saúde estão incorretas, incompletas ou incompreensíveis. A avaliação da qualidade da informação de saúde disponível na internet é uma das formas de combater este problema. Este trabalho teve como objetivo a construção de um instrumento de avaliação da acurácia da informação em sites de saúde que tratam dos acidentes com escorpião, orientado pela “Medicina Baseada em Evidências”, com o auxílio do Dynamed: um ambiente virtual que oferece informações baseadas em evidencias , atualizados e com qualidade, facilmente localizáveis em um banco de dados de referência mundial. Além disso, avaliamos objetivamente o site de acidentes com escorpião disponível no portal “Saúde A a Z” do Ministério da Saúde por meio da aplicação de nosso instrumento. O escorpionismo foi escolhido por ser um agravo que apresenta notável expansão em sua distribuição espacial no Brasil nos últimos anos. O instrumento construído é composto por 21 indicadores abancando a prevenção, o diagnóstico, os sintomas e o tratamento de acidentes com escorpiões. Os resultados da utilização deste instrumento de avaliação da precisão da informação revelaram um índice de 38% de conformidade entre as informações disponíveis no site do Ministério da Saúde, e aqueles presentes na ferramenta por nós apresentados. Discutimos ainda, os aspectos positivos do portal do Ministério da Saúde em seu formato atual, e apontamos as barreiras enfrentadas na qualidade da informação sobre acidentes com escorpiões, trazendo ainda os riscos específicos oferecidos à sociedade, e como a incorporação de esforços em prol do aprimoramento da acurácia da informação sobre os acidentes escorpiônicos pode contribuir positivamente com o atual cenário epidemiológico do escorpionismo no Brasil.
Hoje, as novas tecnologias de informação e comunicação estão presentes na maioria das atividades realizadas por grande parte da população mundial. Elas permitem que seja encontrada e compartilhada uma grande variedade de informações sobre praticamente qualquer assunto, em qualquer tempo e lugar. Como consequência, a forma com que lidamos com diferentes aspectos da vida, inclusive a saúde, tem sido afetada pelas informações obtidas e compartilhadas nas mídias digitais. No entanto, o atual cenário informacional está repleto de problemas. Um deles é a qualidade da informação. Alguns autores têm dedicado sua atenção à avaliar a qualidade da informação disponível em sites de saúde. Esta dissertação tem como objetivo geral construir indicadores para avaliar a acurácia da informação em sites de HPV, uma das infecções sexualmente transmissíveis mais prevalentes no mundo. Em termos de objetivos específicos, seleciona a fonte de informação baseada em evidência a ser utilizada para a construção dos indicadores, identifica as evidências científicas mais atuais sobre HPV e apresenta instrumento capaz de auxiliar a construção e/ou alteração de sites de HPV, de forma que estes apresentem informações que estejam em conformidade com as evidências científicas mais atuais. A metodologia aplicada para a construção dos indicadores de acurácia constitui-se de seis etapas e baseia-se na Medicina Baseada em Evidências. Como resultado, foram construídos 25 indicadores, abarcando as dimensões de Prevenção e controle, Transmissão, Diagnóstico, Sintomas e Tratamento. Esta dissertação realiza ainda um diálogo com outros trabalhos brasileiros de avaliação da qualidade da informação em sites de HPV. Ela fornece uma indicação de como os indicadores construídos podem ser aplicados e apresenta duas iniciativas recentes de combate à desordem informacional. Trata-se de um estudo que oferece uma contribuição ao necessário combate à desordem informacional. Espera-se que este tema ganhe cada vez mais atenção acadêmica e social.
O mundo do trabalho dos profissionais das plataformas de petróleo é complexo, envolve diversos riscos e conta com muitos esforços para redução de acidentes. Contudo, os mesmos ainda acontecem. A comunicação é um dos elementos utilizados para a melhoria das condições de segurança e vai além do binômio produção e recepção de conteúdo, na qual não basta somente produzir materiais e campanhas de segurança com foco no comportamento dos indivíduos. O processo é muito mais complexo, existindo diversas medições socioculturais envolvidas e que se inter-relacionam. Neste contexto, investigou-se a produção de sentidos dos trabalhadores das plataformas de petróleo na Bacia de Campos, relacionados à segurança, por meio da aplicação empírica do mapa metodológico de Jesús Martín-Barbero. Para se chegar aos sentidos construídos, foi-se a campo entrevistar os profissionais embarcados que realizavam atividades operacionais e estavam expostos aos riscos do seu ambiente. Suas falas foram consideradas como representação dos discursos do grupo, compreendidas à luz da teoria do Discurso do Sujeito Coletivo. Concluiu-se que os próprios sujeitos atribuem a si a culpa pelos acidentes, influenciados pela cultura de responsabilização ainda presente, que se materializa nas práticas, ações e discursos. Como alternativa, os trabalhadores revelam a importância dos espaços de escuta e expressão como essenciais para a construção de ambientes cujo foco seja a promoção da saúde e a prevenção de acidentes.
A pesquisa teve o objetivo de analisar o lugar de interlocução das organizações populares em ações de comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) direcionadas à população moradora de favelas e periferias durante a ocorrência de epidemias. A análise dessas ações apoia-se na premissa de que os modelos que vieram forjando o campo da Comunicação e Saúde desde o século XX, especificados nas abordagens informacionais (transferenciais, lineares, verticais e monológicas); nas abordagens filiadas à epistemologia freireana (de natureza dialógica e horizontal); e nas apoiadas nas teorias da produção social do sentido, que valorizam a multiplicidade de vozes (polifonia) e os contextos dos sujeitos na cena social. A partir deles, visa identificar essas abordagens nas ações de comunicação empreendidas pela instituição durante a pandemia de Covid-19 em 2020 e se estas evidenciam uma continuidade ou apontam para a emergência de novas práticas e processos em comparação ao que foi feito durante as epidemias de Dengue (2008) e Zika (2015), na interlocução da Fiocruz com os referidos atores sociais, no Rio de Janeiro. Com isso, também se pretendeu contribuir para a memória sobre práticas de comunicação voltadas para enfrentamento de crises sanitárias, sob o signo de uma perspectiva democrática de comunicação, que leve em consideração os princípios da participação e da equidade, dois entre os que fundamentam o Sistema Único de Saúde.
O presente trabalho é uma análise de documentos imagéticos publicados pelo Ministério da Saúde do Brasil, entre os anos de 1988 e 2020, tendo como marco a publicação da Portaria MS/GM nº 1.060/2002 que criou a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência. A fim de entender o conceito de deficiência que informa os cartazes veiculados em campanhas nacionais de saúde e como o governo brasileiro o representa em sua comunicação, foram analisadas as imagens neles inscritas, especialmente à luz da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. A partir do levantamento realizado, no entanto, chegou-se a um resultado negativo, não tendo sido encontrado, dentro do período inicialmente proposto, entre os anos de 2003 e 2016, nenhum cartaz publicado pelo Ministério da Saúde sobre a deficiência que retratasse alguma campanha específica ou que sequer contivesse pessoas com deficiência. Desta forma, a título de se verificar a profundidade dessa ausência, aumentou-se o recorte de pesquisa, chegando-se a um resultado de cinco cartazes, embora nenhum fosse fruto de campanhas de saúde específicas sobre deficiência. A análise dos cartazes encontrados e de seus signos, portanto, com o olhar da comunicação visual e da fotografia, foi capaz de demonstrar que a deficiência é ainda um tema pouco debatido e estudado, mesmo em um país com quase 20 milhões de pessoas nessa condição, o que reforça uma realidade social excludente, onde a pessoa com deficiência parece ser diferente das demais, anormal, invisível.
A deficiência não está limitada a uma minoria. É uma experiência que pode ser vivida ao longo da vida das pessoas. Entender que a deficiência é algo passível a todos, levanta a questão da necessidade de elaboração de políticas públicas que propiciem uma sociedade mais sensível à diversidade e as necessidades desse grande contingente populacional. Nesse sentido, a produção de dados sobre a deficiência é de intensa importância, pois favorece a criação de informações que posteriormente se transformarão em conhecimento para o planejamento de ações. O Censo Demográfico, por seu caráter universal, é a principal fonte de informação sobre a deficiência no país. O objetivo geral desta dissertação foi analisar a produção de informação sobre a deficiência nos Censos Demográficos do Brasil e sua relação com as recomendações internacionais. Este trabalho foi baseado numa metodologia de revisão de literatura do tipo narrativa, além de análise dos instrumentos de avaliação da deficiência nos Censos. Entre os resultados deste estudo está a demonstração da heterogeneidade conceitual e de captação da deficiência entre as fontes de informação, o que afeta diretamente a prevalência de pessoas com deficiência. Também se mostrou a notável importância dos Censos Demográficos. Essa fonte está em em consonância com as recomendações internacionais, entretanto, nesta pesquisa se observou a variabilidade de perguntas sobre deficiência realizadas nos censos latinoamericanos. Essa variabilidade limita a comparabilidade entre países. Na discussão se mostra a necessidade de haver uma efetiva comunicação entre os órgãos governamentais produtores desses dados/informações e especialistas no tema da deficiência no intuito de potencializar os resultados de modo a propiciar melhorias nas aquisições de direitos e qualidade de vida das pessoas que vivem com deficiência.
A saúde pública é intensiva em conhecimentos tecnocientíficos, por conseguinte, em pesquisa científica, seja para o desenvolvimento de novos fármacos, imunobiológicos, terapias e testes diagnósticos, seja para a proposição de políticas públicas e novas formas de organização e ampliação do acesso à saúde das populações. Nas últimas décadas a pesquisa tecnocientífica em saúde tem sido caracterizada pela formação de grandes redes de pesquisa transnacionais e interinstitucionais, financiada por intermédio do consórcio de fundos públicos e privados, além da intensificação de instrumentação científica especializada, de grande porte e multiusuário. Também importante marca é a pressão para a aceleração da produção de resultados e sua transferência para o setor farmacoquímico, de equipamentos médicos e odontológicos e para os sistemas de saúde nacionais. Esta estratégia de pesquisa elevou os custos da atividade e implica no uso de ferramentas de gestão para coordenação do trabalho de grandes equipes. Dessa forma, um dos efeitos mais salientes é a busca por estratégias de gestão de projetos desenvolvidas inicialmente e amplamente empregadas pelos setores industrial e comercial. Este movimento redundou no desenvolvimento de pacotes de gestão de projetos de pesquisa tecnocientífica, transformando-a em temática de pesquisa, de publicações científicas e eventos acadêmicos. Consideramos, para os efeitos dessa pesquisa, que esses pacotes e a produção científica sobre o tema embutem concepções de tecnociências e da pesquisa tecnocientífica e de suas relações ideais com o mercado. Sendo assim, o objetivo desse estudo é construir um mapa analítico preliminar das concepções de ciência e pesquisa tecnocientífica presentes na análise e na proposição de modelos de gestão de projetos, presentes em grupos de pesquisa nacionais na área de saúde, presente em artigos científicos publicados em dois reconhecidos periódicos nacionais entre os anos de 2004 e 2021.
Esta dissertação tem como objetivo analisar a produção científica sobre arquitetura da informação em ambientes informacionais digitais em saúde. A relevância desse estudo está na possibilidade de auxiliar na organização, rotulação, navegabilidade e busca de informações em ambientes informacionais digitais na área da saúde bem estruturados para que os vários tipos de usuários possam acessar os conteúdos e interagir com o ambiente digital de forma intuitiva, fácil e clara. A metodologia utilizada segue as recomendações da JBI para revisão de escopo e as orientações do checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR). Os grupamentos temáticos que formam o anagrama PCC são: ambientes informacionais digitais/ Web – Internet; arquitetura da informação e saúde/ tecnologias de informação e comunicação em saúde. A estratégia de busca para MEDLINE/PubMed foi escolhida como principal e enviada por uma Bibliotecária para avaliação no PRESS Forum. A busca foi realizada no dia 15 de abril de 2022 em nove fontes de informação, a saber: BRAPCI (Universidade Federal do Paraná – UFPR – e Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS); CINAHL with full text (EBSCO), EMBASE (Elsevier); ISTA (EBSCO); LISTA (EBSCO); LILACS (BIREME/OPAS/OMS); MEDLINE/PubMed (NCBI/NLM); Scopus (Elsevier), Web of Science (Clarivate Analytics). Foram recuperados 1358 registros e todo passo a passo foi descrito no fluxograma PRISMA-ScR. 74 registros foram para leitura de texto completo e apenas 6 atenderam aos critérios de inclusão. Os resultados foram apresentados em gráficos, quadros e tabelas e para o mapeamento e caracterização dos resultados foram elaboradas planilhas em Excel. Conclui que os sistemas de arquitetura da informação são estudados até hoje; que os ambientes informacionais digitais mais estudados na área da saúde são sites, bases de dados e bibliotecas virtuais, também tratados como recursos de conhecimento da área da saúde. O local de publicação que mais publica é o Brasil. E sobre os títulos dos periódicos, 5 títulos cobrem as áreas de Ciênca da Informação e Biblioteconomia. A principal lacuna de conhecimento é a falta de estudos sobre outros objetos de TICs em saúde, como aplicativos para mHealth.