Esta dissertação problematiza as relações entre beleza, saúde e envelhecimento feminino na sociedade brasileira contemporânea, marcadas por intensos processos de (bio)medicalização. Para tensionar a naturalização desse elo, a beleza é entendida como tecnologia biopolítica que, a partir de diferentes interesses e atores envolvidos, pode acarretar discriminação e estratégias de controle social. Quando associado às prescrições antienvelhecimento, há o reforço, principalmente, do idadismo, associado à manutenção de papéis de gênero e do mercado consumidor da indústria da beleza. Em contrapartida, para fazer avançar uma comunicação para além da formação do consumidor público, a partir da manutenção de inseguranças femininas e da continuação da manutenção de interesses capitalistas e políticas neoliberais, assuma-se neste estudo a perspectiva da comunicação e saúde como direitos universais. Seu objeto empírico é formado por duas revistas de "imprensa feminina" voltadas para diferentes segmentos sociais, Ana Maria e Marie Claire. A análise comparativa de enunciados/enunciações baseia-se no conceito de contrato de leitura proposto pelo semiólogo, antropólogo e filósofo argentino Eliseo Verón, de forma a considerar as imagens projetadas das revistas e seus leitores, os vínculos e as relações propostas por cada publicação. Também levamos em consideração a configuração histórica e características atuais da “imprensa feminina”. Com esses esportes, foi analisado um conjunto de 30 edições publicadas entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020. O período conjuga dois critérios: o calendário que orienta as publicações expostas para mulheres, marcado por lançamento de coleção de moda e produtos de beleza – no caso a de primavera/verão – e para que se pudesse analisar o período mais recente possível, antes do início da pandemia da COVID-19 Entre seus principais resultados, destaca-se que, embora a velhice esteja em constante discussão e que comporte a abordagem de aspectos positivos, prevalecendo o ocultamento das marcas do passar do tempo. Isso pode ser notado na antecipação do tema para mulheres cada vez mais jovens, como prevenção do envelhecimento, entendido como manutenção da beleza em aparências joviais. E, ainda, nos rostos lisos, sem rugas, mesmo em mulheres com mais de 40 anos, nas duas publicações. Ana Maria, investe na biomedicalização da alimentação, direcionada para mulheres circunscritas ao âmbito doméstico, familiar e televisivo. Marie Claire assume determinadas pautas feministas, como a diversidade de orientação sexual e defesa de direitos, anguladas para o sucesso profissional e autonomia individual de mulheres sofisticadas e cosmopolitas. Essa invisibilidade do rosto feminino que envelhece nas duas revistas, nos faz perguntar o quão envelhecer é realmente aceito, nos dias de hoje.
COUTINHO, Maíra Valério. Como (não) envelhecer: rosto e envelhecimento feminino nas revistas Ana Maria e Marie Claire. 2021. 88f. Dissertação (Mestrado em Informação e Comunicação) - Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, 2021.