Este trabalho buscou conhecer sentidos e dinâmicas de visibilidade de mortes por violência em contextos de disputas por terra no campo a partir do evento que ficou conhecido como Massacre ou Chacina de Pau d’Arco, tendo como espaço privilegiado de análise o discurso midiático. Em um primeiro momento, foi realizado um levantamento de materiais veiculados em dois espaços de relevância, TV e Internet. Este levantamento possibilitou identificar que atores sociais produziram/agenciaram discursos sobre o tema. Tendo como intuito compreender que narrativas foram construídas e como, no segundo momento da análise procurou observar que atores sociais produziram discursos sobre o acontecimento e a partir de quais estratégias discursivas, tendo em vista as nomeações, as fontes, os elementos associados e as formas como sujeitos foram referenciados, à luz de teorias do discurso e da linguagem. Foram analisadas matérias de telejornalismo do Jornal Nacional e do Jornal Liberal, correspondendo a áreas de abrangência nacional e local, respectivamente, e de vídeos encontrados no Youtube. A análise identificou um conjunto diverso de atores de enunciações sobre o evento que englobava grupos e instituições tais como: mídia corporativa, mídia alternativa, setores de ativismo e movimento social, representantes do legislativo e indivíduos variados. A despeito desta pluralidade ser uma característica importante dos resultados de pesquisa, a presença desses atores não se deu de modo equivalente. O jornalismo da mídia corporativa coloniza as enunciações sobre o acontecimento, pois o mesmo predomina no levantamento realizado no Youtube. O predomínio do telejornalismo dessas mídias está relacionado a convergência midiática, com a presença tanto de materiais de novas mídias, como de mídias tradicionais, habitando um mesmo ambiente Diferentes narrativas para as mortes foram construídas por esses atores, ora como confronto, ora como chacina, massacre e/ou execução. As versões adotadas expressaram/relacionaram um maior ou menor grau de responsabilização e criminalização, tendo em vista que as pessoas envolvidas no acontecimento foram reconhecidas e posicionadas de distintos modos. O estatuto de vítima dos trabalhadores que foram mortos, bem como a forma como estes foram nomeados, os elementos que compuseram os discursos e as fontes que participaram destes, variaram de acordo com os atores da enunciação. As produções da mídia corporativa, tanto nos telejornais quanto no Youtube, direcionam principalmente para uma compreensão ambígua com relação ao acontecido. Atores políticos e alguns usuários com posições ideológicas conservadoras, à direita, reiteraram a versão de confronto. Já as narrativas em que o acontecimento foi apontado como como massacre, chacina, execução foram construídas e sustentadas por movimentos sociais, ativistas, pela mídia alternativa e por alguns usuários. As maneiras como acontecimento foi considerado se diferenciam tanto pelos espaços de produção discursiva dos materiais, quanto por posições políticas destes atores.
MACHADO, Júlia Cardoso de Souza da Matta. Notícias do massacre em Pau D'Arco: dinâmicas de visibilidade das mortes por violência no campo. 2021. 209 f. Dissertação (Mestrado em Informação e Comunicação em Saúde) - Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, 2021.