Esta tese tem como objeto a comunicação das práticas de saúde da Atenção Primária (APS) no Brasil. A partir de uma perspectiva comunicacional, dialoga com outras áreas do conhecimento como a Sociologia, a Antropologia e a Psicossociologia para compreender as práticas de saúde como construções sociais em constante transformação, atravessadas por mediações culturais em disputas e contradições. Destacam-se mudanças mobilizadas pela midiatização nas interações comunicativas contemporâneas. Propõe-se um modelo de análise denominado de Mapa de Interações Comunicativas das Práticas de Saúde, com base nas teorias de Jesús Martín-Barbero e José Luiz Braga. O modelo é utilizado em um estudo de processos comunicacionais durante os sete primeiros meses da pandemia de Covid-19. Eventos que enfatizaram a resposta da APS foram realizados desde o início da pandemia, sendo posteriormente armazenados na plataforma YouTube. Constituíram-se em produtos comunicacionais privilegiados para a análise de narrativas e das interações entre indivíduos e organizações que passaram a ser midiatizadas (BRAGA, 2001; BRAGA et al., 2017). O fenômeno de produção de lives na pandemia também ganhou novos objetivos e proporções devido ao isolamento social (LUPINACCI, 2020). Foram analisados o canal Portal da Inovação da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o canal do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o canal Ivando Agente de Saúde. A trama de mediações e sentidos nos contextos investigados apresentou interações em confluências, negociações e enfrentamento. Episódios interacionais ressaltaram a confluência de interesses e negociações entre a lógica comunitária e a lógica neoliberal. Práticas gerenciais que pressionaram por resolutividade produziram sentidos de urgência e emergência. Algumas unidades privilegiaram os dispositivos de acesso, outras engendraram o acúmulo das novas ações ao leque de dispositivos da APS, produzindo sentidos de heroísmo e resiliência. As estratégias comunicativas dos canais objetivaram a transmissão de informação, mas também promoveram o diálogo entre os participantes. As narrativas envolveram relatos de histórias vividas e mobilizaram predominantemente interações de apoio mútuo e pertencimento. Conclui-se ser possível a construção de estratégias capilarizadas e complementares na comunicação das práticas de saúde, que intervenham no momento de apropriação das mensagens, à luz dos códigos dos diferentes grupos que as recebem.
BARCELOS, Patricia Estrella Liporace. Tramas de mediações e sentidos: um estudo das práticas de comunicação da atenção primária à saúde durante a pandemia de Covid-19. 2021. 251f. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde) - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2021.