Museus que aprendem?: A itinerância e a coprodução de conhecimentos na fronteira entre Ciência e Sociedade

As práticas itinerantes desenvolvidas por museus e centros de ciência urgem por uma agenda de pesquisa que coloque a itinerância como o fenômeno central a ser estudado, com referenciais próprios, capazes de iluminar, principalmente, as inúmeras oportunidades de coprodução de conhecimentos que surgem ao longo do ir e vir, dos encontros com territórios tão diversos e das experiências vividas com os públicos e dentro da própria equipe. As aprendizagens organizacionais que podem decorrer desses deslocamentos são centrais para ampliar e fortalecer a interação entre ciência e sociedade, promovendo maior engajamento público com a ciência, em um caminho para a busca de equidade e justiça social. Usando como estudo de caso o museu itinerante Ciência Móvel – Arte e Ciência sobre Rodas (Ciência Móvel), do Museu da Vida Fiocruz, inspirado em referenciais teóricos dos estudos sociais da ciência e tecnologia, e apoiando-se em diferentes perspectivas metodológicas (pesquisa documental, análises de bancos de dados do Museu da Vida e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, principalmente, conversas de pesquisa com profissionais de diferentes perfis envolvidos no trabalho do Ciência Móvel), buscou-se desvelar os múltiplos espaços de coprodução de conhecimentos que se dão nas fronteiras que constituem o processo da itinerância, desde sua concepção até sua concretização nos territórios. De uma perspectiva institucional interna, que considera a criação, institucionalização e consolidação do trabalho do Ciência Móvel, às interfaces externas que englobam as relações tecidas nos/com os municípios onde as ações acontecem e com outros parceiros, foram descritos diversos contextos em que o cruzamento de fronteiras propiciou espaços potentes para a coprodução de conhecimentos. Foi possível ainda identificar as diferentes esferas que compõem o trabalho de um museu itinerante (gestão das viagens, formação, pesquisa, inovação, educação, comunicação institucional, cultura, relações intra e interinstitucionais, registro e memória, além de perspectivas transversais de avaliação e equidade, acessibilidade e inclusão) e as dimensões a partir das quais as aprendizagens organizacionais podem acontecer (documental, estrutural, procedimental, conceitual, política, subjetiva/afetiva e profissional). Os resultados apontaram que, ao longo da existência do Ciência Móvel, tais aprendizagens, na maior parte dos casos, nasceram a partir da empiria das vivências e foram impulsionadas pelos tensionamentos, disputas, enfrentamentos institucionais, experiências problemáticas e questionamentos dentro da própria equipe. Apesar das “dores” inerentes ao itinerar, a tese permitiu explicitar as “delícias” do pensar e do fazer da itinerância, testemunhando o potencial dessa constante hibridização com o outro para promover diferentes e novas iniciativas de interação entre ciência e sociedade, colocando-se, assim, como uma importante oportunidade para o aprimoramento das ações de divulgação científica enquanto compromisso institucional.

Orientador
Maria Cristina Soares Guimarães
Autor
Ana Carolina de Souza Gonzalez
Citação

GONZALEZ, Ana Carolina de Souza. Museus que aprendem?: A itinerância e a coprodução de conhecimentos na fronteira entre Ciência e Sociedade. 2022. 271 f. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde) - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2022.

Ano
2022
Palavras-chave
Museus itinerantes
Itinerância
Fronteiras
Coprodução de conhecimentos
Aprendizagem organizacional
Banca (Integrantes PPGICS)
Paulo Roberto Borges de Souza Junior
Banca (Integrantes Externos)
Ana Sofia Cavadas Afonso, UMINHO
Luciana Conrado Martins, UFPI
Tipo de documento
Tese