janinecardoso.fiocruz@gmail.com
Docente do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação e Saúde (PPGICS), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), que coordenou de dezembro de 2012 a outubro de 2014. Cientista social, mestre e doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É membro do Grupo de Pesquisa Comunicação e Saúde - Diretório CNPq, participa do Grupo de Trabalho Comunicação e Saúde (GTCom) da Abrasco e é Editora Associada da Revista Ciência e Saúde Coletiva. Desenvolve atividades de ensino e pesquisa com ênfase na análise de discursos midiáticos sobre epidemias, estratégias e políticas públicas de comunicação no campo da comunicação e saúde.
Conheça as publicações mais recentes da docente:
LERNER, K.; CARDOSO, J.; CLEBICAR, T. Sobre vacinas, emoções e testemunho: o corpo na produção de discursos antagônicos à imunização contra a Covid-19. In: SIQUEIRA, D.; FORTUNA, D. (org.). Narrativas da pandemia: corpos, escritas e subjetividades. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Ayran, 2024. p. 1-22.
LERNER, K.; CARDOSO, J.; PEREIRA, A. G. Seguindo a “Doutora Margareth”: a confiança na ciência em tempos de midiatização. In: CAL, D.; GOMES, I. M.; MIGUEL, K.; VAZ, P. (org.). O que ficou da pandemia? Ciência, desinformação e desigualdades no Brasil contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Pimenta Cultural, 2024. p. 109-150.
CARDOSO, J. M.; GONDIM, M. M.; BORGES, V. Q. Discursos sobre ciência na pandemia de covid-19: a “corrida” pela vacina em Veja e Fantástico. In: BORGES, W. C.; PEREIRA NETO, A. (org.). Comunicação, poder e processos sociais em saúde: paradigmas, abordagens e tendências. 1. ed. São Roque, SP: Gênio Editorial, 2024. v. 1. p. 90-111.
CARDOSO, J. M.; MUZI, D. Voz, vídeo e visibilidade: um método para pesquisa da circulação na internet. In: BORGES, W. C.; PEREIRA NETO, A. (org.). Comunicação, poder e processos sociais em saúde: paradigmas, abordagens e tendências. 1. ed. São Roque, SP: Gênio Editorial, 2024. p. 134-156.
MALINVERNI, C.; BRIGAGÃO, J. I. M.; CARDOSO J. M.; VILLELA, E. F. M.; BUGUEÑOL, C. R. Z. (org.). Desinformação e covid-19: desafios contemporâneos na comunicação e saúde. 1. ed. São Paulo: Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 2023.
Este projeto tem como objetivo investigar o lugar simbólico da Fundação Oswaldo Cruz no contexto midiático durante o período da pandemia de covid-19. Seu ponto de partida repousa sobre os pressupostos dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, notadamente o de que a ciência não é feita apenas no interior dos laboratórios. Ao contrário, é produzida por uma rede heterogênea de atores sociais, envolvendo também processos de convencimento de diferentes segmentos para obter consensos e promover a estabilização de seus enunciados. Parte importante desse processo envolve a sua atuação no espaço público, mais especificamente no campo midiático, o que vem se tornando um elemento de importância crescente haja visto o lugar estratégico que os meios massivos e o ambiente digital vêm ocupando na produção de sentidos e nas disputas políticas da contemporaneidade. Tomando como centro de investigação a atuação da Fundação Oswaldo Cruz durante a crise sanitária, buscaremos compreender os modos como sua imagem foi midiaticamente construída, como angariou (ou não) confiança, credibilidade e reconhecimento, assim como as dinâmicas que conformaram sua presença no espaço público. A investigação articulará três perspectivas teórico-metodológicas: os Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (KROPF et al, 2021), os estudos sobre midiatização da sociedade (HJAVARD, 2012; HEPP, 2014) e os aportes da produção social dos sentidos, em especial, as noções de polifonia e dialogismo (BAKHTIN, 1992; 1988), a atenção para os diferentes níveis de contextualização (situacional, institucional, histórico) das práticas discursivas e as relações de poder e saber nas quais são produzidas (PINTO, 1999).Faremos um levantamento das principais publicações jornalísticas no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2022 que fazem referência à Fiocruz. Privilegiaremos os jornais O Globo e Folha de S. Paulo por serem jornais de referência no país, de grande relevância no cenário político nacional, e serem os dois de maior circulação digital e total (impressa mais digital). O jornalismo, a despeito das tensões que vem sofrendo na nova ambiência digital, permanece como um importante ator social que pauta debates e interfere nas dinâmicas sociais e políticas. A partir desse mapeamento preliminar, faremos um recorte qualitativo de modo a adentrar em um segundo momento de análise, a dimensão de circulação desses discursos. Para isso, levantaremos as postagens feitas no Twitter, tendo como uma referência a própria participação dos jornais na rede social digital. A estratégia de coleta será feita por meio da Plataforma de Ciência de Dados Aplicada à Saúde (PCDaS), do Icict, que consiste em uma ferramenta capaz de extrair de modo automatizado as publicações on-line a partir da seleção de descritores específicos, em intervalos de tempo e jornais de interesse.
Em junho de 2020, três meses após o surto de Covid-19 ser classificado como pandemia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a escalada do fenômeno chamado “infodemia”, caracterizado pela circulação excessiva de informações sobre a crise de saúde, e também pela manipulação deliberada de informações sobre a origem do vírus, as causas da doença, os tratamentos, as formas de propagação, entre outros aspectos (ORSO, 2020; ZACOSTAS, 2020). Ao realizar a 1ª Conferência de Infodemiologia, a OMS chamou atenção para os impactos da desinformação, das fake news, dos rumores e teorias conspiratórias sobre o comportamento e sobre a saúde humana (GALLOTTI, 2020). A experiência da pandemia no Brasil tem mostrado a perpetuação da desinformação e da má informação. Entre os temas mais polêmicos, estão a especulação sobre a origem do vírus SARS-CoV-2, a negação da gravidade da síndrome respiratória causada pelo vírus e da própria pandemia, a oposição às medidas de isolamento social e de prevenção, a promoção de tratamentos e medicamentos sem eficácia demonstrada ou mesmo comprovadamente ineficazes e a descrença na qualidade e na eficácia dos imunizantes desenvolvidos contra a COVID-19. Trata-se de um problema de circulação e disseminação de informações diretamente vinculado aos comportamentos sociais encorajados e adotados em resposta à crise sanitária mundial e aos riscos de adoecimento e de morte. Esse dilema emerge em um contexto marcado pela disputa política pela verdade e pela crise dos regimes de asserção da verdade, entre os quais podemos destacar a ciência, o jornalismo, a medicina, o estado? (ROSENFELD, 2019; FINKEL, 2020) Ou seja, a infodemia deve ser entendida como a multiplicação da desinformação (O'CONNOR, 2019) e como desagregação dos sistemas peritos que dominavam os lugares sociais de confiança até poucas décadas (WAISBORD, 2018). A pandemia de COVID-19 surge, portanto, em um momento histórico de reordenamento dos mecanismos e processos sociais de construção de crenças e de relações de confiança no qual o próprio conhecimento científico precisa ser transigido. No contexto brasileiro da pandemia, a questão já não é explicar a distância entre peritos e leigos na avaliação de riscos, mas a polarização em torno das avaliações produzidas pela ciência (BALTA, 2021; MASON, 2018). O objetivo é compreender tanto o fenômeno da produção e circulação, deliberada ou não, de informações falsas ou imprecisas, quanto a distribuição diferencial de comportamentos de risco na sociedade baseada em posições políticas, morais e religiosas. Nesse contexto, a primeira questão é saber como os indivíduos formam suas avaliações a partir tanto de informações que expressam e popularizam o consenso científico quanto de desinformações frontalmente contrárias. A segunda questão remete aos processos de formação, mudança e manutenção de crenças e comportamentos, mesmo diante de evidências científicas claras e contrárias.