A Faperj anunciou, no dia 23 de novembro, o resultado do Programa de Apoio à Editoração – 2023. Entre as publicações selecionadas, está o livro (Des)informação em saúde: na perspectiva das mediações, de Igor Sacramento, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), Ana Carolina Monari, doutoranda do PPGICS, e Hully Falcão, em estágio de pós-doutorado no Programa.
Com base na perspectiva das mediações desenvolvida por Jesus Martín Barbero em seu livro Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia, o autor e as autoras trabalham com três estudos de caso, sendo dois em andamento, em que a união entre a teoria das mediações e o aporte teórico-metodológico da etnografia se mostra fundamental para a compreensão das mediações socioculturais que permeiam a produção, o consumo e a circulação de (des)informação na sociedade.
A publicação reúne as experiências dos três em pesquisas na área de Comunicação e Saúde e celebra a interdisciplinaridade de temas, textos e contextos partilhada na vivência e na convivência no PPGICS. Segundo Igor Sacramento, isso foi fundamental para concretizar a proposta do livro de caminhar na direção oposta a dos estudos sobre desinformação realizados no Brasil atualmente, que centralizam suas análises na produção do texto e/ou insistem na dualidade de “verdadeiro versus falso”: “Discutimos, de forma aprofundada, a problemática do conceito de desinformação. Por meio de uma perspectiva histórica, resgatamos ocorrências epidemiológicas ao longo das últimas décadas, como a influenza comum, H1N1, febre amarela e a covid-19, para compreender quais foram os lugares do jornalismo, da internet, da ciência e da população nesses contextos. Além disso, realizamos uma discussão sobre a verdade e seus regimes na era contemporânea, com o intuito de entender o lugar ocupado pelo conhecimento e pela experiência neste cenário”.
Ana Carolina Monari complementa: “Atualmente, há disputas pela verdade. Ciência e fatos objetivos são colocados sob suspeita e rejeitados pela emoção e pelo conhecimento obtido com a experiência. Nesse contexto, a internet e as redes sociais digitais, acessíveis rápida e facilmente, tornam-se espaços de circulação de informações sobre saúde e, assim, são importantes objetos de pesquisa.” Monari é jornalista e desenvolve, no doutorado, o projeto de pesquisa “Quem consome fake news consome fake news? Os usos e os sentidos atribuídos à ciência e ao jornalismo nos canais sobre Covid-19 no Telegram”.
(Des)informação em saúde: na perspectiva das mediações trabalha a mídia como parte complexa da teia de cultura em que estamos inseridos e realiza um estudo sobre a comunicação no qual as práticas sociais midiatizadas dissolvem as interpretações baseadas somente nas audiências. Por isso, também, a opção pela abordagem teórico-metodológica da antropologia, uma vez que ela permitiu observar as particularidades e as transformações dos usos da mídia e da informação.
Dessa forma, Hully Falcão, cientista social, com doutorado em antropologia e que pesquisa em seu pós-doutorado “Movimentos pró-ciência: controvérsias, performances e justificações na divulgação científica”, reafirma a importância da união da experiência em pesquisa e de diferentes áreas dos três autores para a publicação: “Nos propusemos a investigar a comunicação dos atores sociais envolvidos em situações sociais concretas, sem desconsiderar os usos das tecnologias de comunicação – a conduta da vida diária, os produtos, os recursos, as imagens, os sons e os espetáculos da cultura midiática –, que estabelecem discursos sobre saúde, doença, corpo, gênero, sexualidade, idade, raça e classe. Esse caminho torna-se importante para ampliar o debate sobre a questão da desinformação, em especial a científica em saúde”.
Para Igor Sacramento, ser contemplado neste programa da Faperj consolida a importância do tema pesquisado: “Disputas contemporâneas sobre a verdade estremecem as instituições democráticas e permitem que narrativas baseadas em experiência, crenças e convicções pessoais prevaleçam sobre o método científico. Analisar, nesse contexto, a produção, a circulação de significados e as representações sobre alteridade, nos permitiu observar a estetização das mais diferentes práticas do cotidiano, a construção de diferentes modelos do mundo político e identificar o fornecimento de materiais com os quais as pessoas constroem sua identidade e subjetividade”.
O livro, que será publicado em 2024, está inserido na proposta da Faperj de difundir e divulgar pesquisas e/ou estudos desenvolvidos no estado do Rio de Janeiro, através da edição em formato de livro, e-book, coletânea, publicação periódica temática, obra de referência, CD (de áudio, de dados e híbridos) e DVD (de vídeos documentários, científicos ou educativos, de dados e híbridos) nos suportes impresso (incluindo o Sistema Braile), eletrônico ou digital.