PPGICS e a internacionalização da pesquisa

O Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) começa o ano com uma ótima notícia – duas alunas foram contempladas com a bolsa de Doutorado Sanduíche no Exterior do Programa Institucional de Internacionalização da Capes – Capes/PrInt-Fiocruz: Ana Carolina Pontalti Monari e Luana Luciana Ribeiro de Alencar.

O Projeto de Internacionalização da Fiocruz – Capes/PrInt-Fiocruz foi criado em 2018 para concorrer ao edital lançado pela Capes, que tem, entre seus objetivos, fomentar a construção, a implementação e a consolidação de planos estratégicos de internacionalização das instituições contempladas; estimular a formação de redes de pesquisas internacionais para aprimorar a qualidade da produção acadêmica vinculada à pós-graduação e promover a mobilidade de docentes e discentes, com ênfase em doutorandos, pós-doutores e docentes para o exterior, além de atrair docentes do exterior e recém doutores com experiência no exterior para o Brasil.

O PPGICS fez algumas perguntas para as alunas com a proposta de que suas experiências possam orientar, incentivar e fortalecer o processo de pesquisa de discentes, profissionais e pesquisadores. A aluna Ana Carolina Monari será a primeira a nos contar sobre a importância da bolsa sanduíche para seu trabalho e o reconhecimento de temas de Comunicação e Saúde no desenvolvimento de pesquisas, serviços e formação de pessoal. Para ela, a internacionalização da pesquisa fortalece a perspectiva de integração em redes para a produção de conhecimento e o combate à desinformação no Brasil e no mundo: “o Programa Print-Capes é uma excelente iniciativa e uma oportunidade incrível para que nós, pesquisadores em formação, possamos ter a oportunidade de cruzar fronteiras e trazer novos conhecimentos para o nosso país”.

PPGICS: Qual a importância da bolsa sanduíche para seu projeto?

Ana Carolina Monari: Meu projeto de pesquisa tem como tema a desinformação, em especial, a científica em saúde. Dentro deste tema, busco compreender os usos e os sentidos atribuídos à ciência e ao jornalismo pelos usuários de canais de informação sobre Covid-19 no Telegram durante o contexto da pandemia e caracterizar esses dois campos nos processos de desinformação. Creio que a pergunta que resume todo o trabalho que venho fazendo é: “por que as pessoas acreditam ou não em fake news?”. Sendo assim, parto da ideia de que, antes de buscarmos soluções para o problema da desinformação e das fake news, é preciso conhecer as razões que levam as pessoas a produzirem, consumirem e fazerem circular esse tipo de conteúdo nas redes sociais digitais. Para isso, defendo que é necessário identificar e refletir sobre os sistemas de crenças e os usos que as pessoas fazem das plataformas.

Assim, quando comecei a pensar sobre a possibilidade de fazer um doutorado sanduíche, busquei pesquisadores que pudessem estabelecer diálogos com minha pesquisa e trazer novos horizontes para o estudo. Conversando com meu orientador, o professor Igor Sacramento, pensamos em alguns nomes e chegamos à professora Deborah Lupton, que aceitou ser minha supervisora, da University of New South Wales (UNSW), em Sidney. Ela estuda, justamente, as dimensões socioculturais do uso das novas tecnologias na vida cotidiana e está realizando alguns estudos no contexto da pandemia de Covid-19.

Acredito que o período na Austrália será fundamental para me trazer novas bibliografias, novas perspectivas e expertises para a realização do trabalho de campo, que começarei em breve. Além disso, me permitirá estabelecer parcerias com outros pesquisadores, o que poderá fomentar o diálogo intercultural entre o PPGICS/Icict/ Fiocruz e a UNSW.

Sem mencionar que fazer um doutorado sanduíche é uma oportunidade única para qualquer pós-graduando, pois permite a vivência de novas experiências e o amadurecimento do pesquisador em formação. Estou muito animada para essa nova etapa!

PPGICS: Por que escolheu a Austrália?

Ana Carolina Monari: Escolhi a Austrália, em primeiro lugar, pela oportunidade de trabalhar com a professora Deborah Lupton, que atua na University of New South Wales (UNSW), em Sydney. Depois, pesquisando e conhecendo um pouco mais sobre a instituição, descobri que a UNSW é pioneira em pesquisa interdisciplinar desde a sua origem e tem um forte foco na internacionalização, recebendo estudantes de todo o mundo. No fim, Sydney acabou me encantando pelas suas belezas naturais e arquitetônicas, pela sua diversidade cultural e pelo estilo de vida.

PPGICS: Fale um pouco mais sobre o trabalho da professora Deborah Lupton.

Ana Carolina Monari: Ela é uma das mais importantes pesquisadoras no campo da Comunicação e Saúde, com mais de 240 trabalhos na área e uma extensa trajetória de pesquisa que compreende as áreas da sociologia, mídia e estudos culturais. Lupton é responsável, por exemplo, pela apresentação dos alicerces da sociologia digital, que tem como uma de suas preocupações, justamente, a análise sociológica dos usos das mídias sociais, buscando pesquisar os impactos das mídias e redes sociais digitais para o comportamento dos atores sociais. Em seus estudos mais recentes, ela demonstrou como as experiências e os sentimentos pessoais dos indivíduos, bem como fatores sociais, culturais, tecnológicos e políticos, são importantes para moldar o conhecimento, o interesse e a aceitação das pessoas sobre determinados dispositivos de saúde.

Por isso, acredito que a expertise dela será muito benéfica para minha pesquisa. Um dos meus principais objetivos no projeto é compreender as razões que fazem as pessoas consumirem ou não desinformação científica em saúde. Outro fator importante de contribuição está relacionado aos métodos de pesquisa. Na pandemia, Lupton realizou inúmeras pesquisas sobre as dinâmicas de produção, consumo e circulação de informações. Uma delas foi uma etnografia em ambiente virtual, com entrevistas feitas por intermédio de videoconferências. Essa experiência pode me indicar caminhos para a melhor execução das entrevistas que pretendo fazer com os meus interlocutores.

Data de publicação
1 year 9 months atrás