Em que pese o fato de o Brasil ter a maior Rede de Bancos de Leite Humano do mundo (rBLH-BR), realizar investimentos, campanhas e ações de comunicação para a doação de leite humano, o país opera com déficit estimado, em termos médios, na ordem de 45%. Nesse contexto, emerge a Rede de Bancos de Leite Humano do Distrito Federal (rBLH-DF), sendo essa a única região geográfica do mundo a atingir padrão de autossuficiência em leite humano. Por ser uma pesquisa que se ergue no campo da Informação e Comunicação em Saúde, buscou-se conhecer as práticas de comunicação dos BLHs do DF ao longo de sua história, partindo da pergunta norteadora - \201CQual o lugar da comunicação no processo de construção da autossuficiência em leite humano na rBLH-DF? Utilizou-se como fontes primárias de informação os depoimentos de coordenadores de 15 BLHs. A opção metodológica ocorreu mediante análise de conteúdo, na modalidade temática, com entrevistas individuais semiestruturadas e pressupostos do modelo teórico-metodológico do Mercado Simbólico, aliado ao método qualitativo. Identificou-se 11 grupos temáticos e um conjunto de práticas específico a cada um deles, que foram assim agrupados: alcances e limites da prática de comunicação para a autossuficiência Verificamos que a comunicação com as mães se configurou como o principal demarcador para a autossuficiência, mediante as seguintes práticas: visita do BLH ao Alojamento Conjunto, UCIN e UTI Neonatal (100%); atendimento especializado às doadoras e seus filhos (67%); eventos científicos e comemorativos (67%); contato telefônico com as mães e doadoras (60%); visita domiciliar às doadoras (60%); programas e grupos de apoio às mães e às doadoras (47%); materiais informativos (33%); visita das mães e doadoras às instalações do BLH e Maternidade (27%); palestras na comunidade (20%); atendimento com agenda aberta (20%); e pesquisas de satisfação com o cliente/usuário (7%). Uma característica da rBLH-DF é o trabalho em rede, sendo mencionada a parceria com outras equipes e com gestores por 87% dos entrevistados, e entre os BLHs por 73%. Observou-se também a comunicação com: Corpo de Bombeiros Militar (80%), Coordenação Distrital/SES-DF (67%); rBLH-BR (60%), Terceiro Setor (60%), Atenção Básica (47%), Mídia (40%); Postos de Coleta (20%); Administrações Regionais (7%) Destacou-se a existência da produção, circulação e apropriação dos sentidos sociais, mediante: diálogo, inclusão, cuidado, acolhimento, leis, parcerias, conquistas de títulos e premiações. Localizou-se aspectos relacionados à universalidade, equidade e integralidade, princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde, que indicam na Comunicação e Saúde, o direito à comunicação, acesso aos meios, canais e espaços de fala e escuta, e medidas mais equânimes no cuidado. Os princípios organizativos \2013 descentralização, hierarquização e participação social \2013 também foram identificados, com mecanismos redistributivos de comunicação e acesso à informação. Esta pesquisa proporciona subsídios para o planejamento de práticas de comunicação, remetendo a um novo ponto de vista ao campo da saúde, com amplitude para a comunicação. Espera-se contribuir para a autossuficiência em leite humano em outros territórios, em consonância com as políticas públicas, corroborando com o compromisso da rBLH-BR em reduzir os índices de mortalidade infantil.
Raupp, Roberta Monteiro. O lugar da comunicação no processo de construção da autossuficiência em leite humano no Distrito Federal. 2016. 291 f. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde) - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2016.