O gênero é um marcador social da diferença. Ele é hierarquizado e, consequentemente, grupos de pessoas, atividades, hábitos, profissões e instituições são desvalorizados em nossa sociedade. Essa desvalorização contribui para desigualdade social e repercute também na saúde. A desigualdade social em saúde é marcada pela injustiça, quando um indivíduo ou grupo está em desvantagem de condições para manter-se saudável. Como grupo social desvalorizado, pessoas transgêneras são alvo de muito tipos de violência e de invisibilização de suas demandas. O discurso científico, que cria oposições binárias de gênero, tem naturalizado e localizado a verdade sobre o gênero nas estruturas corporais. Neste contexto, o objetivo da pesquisa foi caracterizar os modos de visibilidade de pessoas trans na produção científica brasileira. Para tanto, foi delineado um panorama da produção científica brasileira a respeito da transgeneridade e estabelecido um vínculo entre as formas de visibilidade das pessoas transgêneras e a desigualdade em saúde. A metodologia empregada consistiu na busca por estudos nas fontes de informação científica multidisciplinares SciELO CI, WOS e SCOPUS; na análise de autores, instituições, áreas do conhecimento e os países que pesquisam em colaboração com o Brasil; na análise de assuntos; e na análise bibliográfica de temas como feminismo, estrutura social da ciência e visibilidade O corpus encontrado foi de 293 estudos. Dos 10 autores mais produtivos, as duas primeiras são vinculadas a mesma instituição e têm juntas mais da metade dos estudos sobre pessoas trans da instituição a que pertencem. O número de estudos publicados cresce a cada ano e 2016 se destaca com mais publicações. O Estados Unidos é o país que mais produz em parceria como Brasil e há uma predominância de estudos das áreas das Ciências da Saúde. Foram identificados 17 assuntos, sendo possível perceber os temas e as tendências dos estudos sobre transgeneridade. Os modos de visibilidade e a desigualdade em saúde puderam ser discutidos a partir desse contexto de produção e da análise de assuntos. Dentre as conclusões, estão a necessidade da melhoria do atendimento integral em saúde, a importância do fomento à pesquisa, a necessidade de discussão de gênero nas escolas e o cuidado ao nomear grupos estigmatizados.
RODRIGUES, Érica Gomes. Visibilidade trans na produção científica brasileira: contextos, temas, desafios e tendências. 2018. 109 f. Dissertação (Mestrado em Informação e Comunicação em Saúde) - Programa de Pós-Graduação em Informação e Comuynicação em Saúde, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018.