"Os desafios para a pesquisa interdisciplinar e a pós-graduação no Brasil recente" foi o tema da mesa no segundo dia da Semana de Abertura do PPGICS 2023. Eduardo Winter (INPI/ Unisuam) e Paulo Vaz (UFRJ), coordenadores das áreas Interdisciplinar e Comunicação e Informação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), respectivamente, foram os convidados para falar e debater sobre a importância de se conhecer o processo de avaliação, seus requisitos e parâmetros e, consequentemente, a interação entre produção e compartilhamento do conhecimento produzido por alunos e pesquisadores.
Eduardo Winter iniciou o debate ressaltando a mudança de cenário para a pesquisa e a ciência no Brasil e, com ele, a possibilidade de pensarmos com mais profundidade sobre mudanças relacionadas à vida acadêmica e às novas formas de fomentos necessárias para o bom andamento da ciência e da pesquisa. Apresentou o contexto e um pouco da história da Área Interdisciplinar, criada em 1999: "Temos, hoje, mais de 365 programas em funcionamento na área, distribuídos por todos os estados do Brasil. Apesar de ser uma área com pouco mais de 20 anos, estamos em um processo de amadurecimento, com o aumento de produções e de programas avaliados como excelentes - de 11, na penúltima avaliação quadrienal, para 18 na última. Isso significa também pensar sobre os procedimentos qualitativos e quantitativos de avaliação e produção".
Winter destacou a diferença entre multidisciplinaridade e interdisciplinaridade que, por sua natureza transversal, avança para além das fronteiras disciplinares, articulando, transpondo e gerando conceitos, teorias e métodos, ultrapassando os limites do conhecimento disciplinar e dele se distinguindo por estabelecer pontes entre diferentes níveis de realidade, lógicas e formas de produção do conhecimento. A importância de entender esse conceito se materializa na inter-relação de diferentes áreas de conhecimento que formam programas como o PPGICS, e os olhares atentos que ultrapassam os processos de avaliação, mas envolvem também estimular a produção em ciência e tecnologia, promover a formação de mestres, doutores e profissionais de alto nível e com perfil inovador, contribuir para a emergência de novas áreas do conhecimento, acompanhar e fomentar grupos de pesquisa.
Paulo Vaz (UFRJ) concorda com Winter: "É importante entender o que é prioritário em diferentes contextos para o país e que a avaliação é uma forma de o Estado se legitimar, legitimar a avaliação por pares e estabelecer critérios para distribuição de verbas com a intenção de fomentar ainda mais pesquisas e produção de conhecimento". Entretanto, Vaz ressaltou que é preciso também aprender com os processos para evitar distorções de consensos estabelecidos sobre o que é bom, ótimo e necessário nos programas de pós-graduação: "Costumo dizer que produzir pouco é ruim, mas produzir muito não é necessariamente bom. Por isso, temos de compreender como nos julgamos e como nos avaliamos para promover interações entre quantidade e qualidade, produção e compartilhamento de conhecimento".
Na Área de Comunicação e Informação, o processo para estabelecer relações entre o que determina a qualificação e a qualidade dos Programas envolve consensos e confrontos sobre critérios de qualidade e diferentes especificidades. Para Paulo, nada deve ser absoluto e definitivo: "Hoje, percebemos que alguns critérios são mais benéficos para determinadas áreas. Assim, temos sempre de pensar que os processos de avaliação e classificação são diferentes dos de produção e transmissão de conhecimento".
Com mediação da professora e pesquisadora Janine Cardoso, o debate durou mais de 2 horas, com participação de docentes, alunos e alunas do PPGICS e perguntas sobre necessidade de se pensar em veículos de comunicação que permitam comunicar, compartilhar e fazer circular diferentes formas e produções de conhecimento.
Eduardo Winter é formado em Química Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e tem mestrado e doutorado em Química Analítica pela Universidade Estadual de Campinas. Atua na área de pesquisa relacionada com Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento, com foco em prospecção tecnológica, indicadores de ciência, tecnologia e inovação, relação universidade-empresa e desenvolvimento local. Atualmente, é coordenador de programas profissionais da área de Avaliação Interdisciplinar da Capes e professor permanente do mestrado e doutorado profissionais em Propriedade Intelectual e Inovação (INPI) e mestrado e doutorado profissionais em Desenvolvimento Local (Unisuam).
Paulo Vaz é formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, doutor em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem pós-doutorado pela University Of Illinois At Chicago. Atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador da área Comunicação e Informação da Capes. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria da Comunicação, atuando, principalmente, em temas que envolvem ética, filosofia moderna e contemporânea e história. Seu projeto de pesquisa atual é "Narrativas de sofrimento e processos de identificação: risco, compaixão e testemunho".
Para assistir a mesa integralmente e se aprofundar ainda mais no debate sobre "Os desafios para a pesquisa interdisciplinar e a pós-graduação no Brasil recente", acesse o link: https://youtube.com/live/bDVLEfwQL50?feature=share.
Amanhã, a Semana de Abertura 2023 contará com a participação de Lúcia Souto e Marcelo Alves, mediados por José Noronha, na mesa "Os impactos da desinformação na saúde pública".
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