Título: "Notícias das Mortes em Pau D’Arco: sentidos e dinâmicas de visibilidade da violência no campo"
Aluna: Júlia Cardoso de Souza da Matta Machado
Orientadora: Kátia Lerner (PPGICS/ICICT/FIOCRUZ)
Banca:
Titulares
Dr.ª Janine Miranda Cardoso- PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Dr. Pedro Barreto Pereira- PPGMC/UFF
Suplentes
Dr. André de Faria Pereira Neto- PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª Renata Cristina de Oliveira Tomaz– PPGMC/UFF
Data: 08/7/2021 - Quinta-feira | Horário: 15h
Sala Virtual: https://zoom.us/j/92253692239?pwd=WnhJSldpYzdtTXVRd2thcmVsMVNpZz09 | Senha: 330065
Resumo: Este trabalho buscou conhecer sentidos e dinâmicas de visibilidade de mortes por violência em contextos de disputas por terra no campo, mais especificamente aquelas ocorridas em 2017em Pau d’Arco, tendo como espaço privilegiado de análise o discurso midiático.
Em um primeiro momento, foi realizado um levantamento de materiais veiculados em dois espaços de relevância, TV e Internet. Este levantamento possibilitou identificar que atores sociais produziram/agenciaram discursos sobre o tema. Tendo como intuito compreender que narrativas foram construídas e como, no segundo momento, procurou-se observar como diferentes atores sociais produziram discursos sobre o acontecimento e a partir de quais estratégias discursivas, tendo em vista as nomeações, as fontes, os elementos associados e as formas como sujeitos foram referenciados, à luz de teorias do discurso e da linguagem. Foram analisadas matérias de telejornalismo do Jornal Nacional e do Jornal Liberal, correspondendo a áreas de abrangência nacional e local, respectivamente, e de vídeos encontrados no Youtube.
A análise identificou um conjunto diverso de atores de enunciações sobre o evento, tais como: mídia corporativa, mídia alternativa, setores de ativismo e movimento social, representantes do legislativo e indivíduos variados. A despeito desta pluralidade ser uma característica importante dos resultados de pesquisa, a presença desses atores não se deu de modo equivalente. O jornalismo da mídia corporativa coloniza as enunciações sobre o acontecimento, haja visto a sua preponderância no Youtube. Tal característica está relacionada à convergência midiática, com a presença tanto de materiais de novas mídias, como de mídias tradicionais, habitando um mesmo ambiente.
Diferentes narrativas para as mortes foram construídas por esses atores, ora como confronto, ora como chacina, massacre e/ou execução. As versões adotadas expressaram um maior ou menor grau de responsabilização e criminalização, tendo em vista que as pessoas envolvidas no acontecimento foram reconhecidas e posicionadas de distintos modos.
As produções da mídia corporativa, tanto nos telejornais quanto no Youtube, direcionam principalmente para uma compreensão ambígua com relação ao acontecido, ainda que com predomínio da criminalização dos sujeitos mortos. Atores políticos e alguns usuários com posições ideológicas conservadoras, à direita, reiteraram de forma explícita a versão de confronto. Já as narrativas em que o acontecimento foi apontado como como massacre, chacina, execução foram construídas e sustentadas por movimentos sociais, ativistas, pela mídia alternativa e por alguns usuários.
As maneiras como o acontecimento foi considerado se diferenciam tanto pelos espaços de produção discursiva dos materiais, quanto por posições políticas destes atores. Se os discursos hegemônicos enfatizaram a criminalização dos sujeitos mortos no evento, os discursos concorrentes tensionaram essa versão, se prolongando no tempo e constituindo-se um espaço de memória e resistência.