Defesa de Tese de Doutorado

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Resumo

Título: "A Vida como Palco de Disputas: doença, ativismo social e processos comunicacionais em oncologia"

 

Aluna: Keyla de Moraes Carnavalli

Orientadora: Kátia Lerner (PPGICS/ICICT/FIOCRUZ)

Banca:
Titulares:

  • Drª Inesita Soares de Araujo- PPGICS/ICICT/FIOCRUZ

  • Dr. Wilson Couto Borges- PPGICS/ICICT/FIOCRUZ

  • Drª Rachel Aisengart Menezes – PPGSC/UFRJ

  • Dr. Luiz Antonio Teixeira- PPGHCS/ COC/ FIOCRUZ

Suplentes:

  • Drª Márcia de Oliveira Teixeira/ICICT/FIOCRUZ

  • Drª Waleska de Araújo Aureliano – UERJ

Data: 19/02/2021 - Sexta-feira | Horário: 9h

Sala Virtual: https://zoom.us/j/96649784130?pwd=WWdJcUU3WFpadnB0WGxkUGVwK1Rldz09

Resumo: A presente tese versa sobre como ocorre a mobilização de grupos de ativismo em câncer e como são engendradas práticas sociais e comunicacionais que produzem novas configurações e reivindicações de direitos e tratamentos em oncologia. Para esta empreitada utilizei a etnografia, que para além de um método, reflete um modo de observar e pesquisar pautado em conhecimentos teóricos que embasaram o olhar sobre o objeto empírico e norteou a análise na perspectiva sócio-antropológica e comunicacional. 
A investigação dos modos de mobilização em torno dessa doença teve início pela observação participante do Movimento Todos Juntos contra o Câncer, dos congressos conduzidos por esse movimento e a partir dessa observação foram escolhidas quatro associações de pacientes com foco de atuação nos direitos do paciente com câncer. Durante a investigação, acompanhei as ações e trajetórias dos principais protagonistas que se destacaram por sua atuação e visibilidade como ativistas da área, ou como agentes de advocacy como muitos se denominam. 

Entrevistei cinco sujeitos que possuem protagonismo na área e investiguei as estratégias e modos de ação e articulação para o alcance das reivindicações propostas por eles e pelas associações das quais faziam parte. As reivindicações mais acionadas pelos ativistas se destacaram em três eixos principais com diversos desdobramentos: modos de financiamento; acesso e tratamentos oncológicos no Brasil e incorporação de tecnologias de saúde em oncologia. Os modos e as ações utilizadas pelos atores sociais para alcançar as reivindicações envolvem estratégias para conseguir mudanças nas políticas públicas, sobretudo pelo legislativo através de articulações entre diversos agentes para o alcance dos objetivos. Outro modo de ação, passa pela judicialização quando certos direitos não são assegurados ou quando o direito à vida está ameaçado. Desta forma, a judicialização representou uma saída possível numa perspectiva mais individual quando algum direito à saúde foi desconsiderado, mas pouco valorizada pelos ativistas como modo de ação. As ações também foram atravessadas pela aproximação das farmacêuticas no entrelaçamento entre governo, serviços de saúde, mercado e associações de pacientes. 

Para refletir sobre esses manejos discuti a noção de biolegitimidade, da esperança como categoria e da vida como valor que são acionados para legitimar certos tratamentos e modos de financiamento. Investiguei também como as associações de pacientes e os atores sociais utilizam os processos comunicacionais como uma estratégia para alcançar as reivindicações e serem reconhecidas como espaços legítimos de ativismo em câncer. Eles envolveram a formação de novos coletivos por meio da sociabilidade no ambiente digital, a ampliação do alcance comunicacional de suas ações, visando atingir um número maior de participantes e público interessado em geral. A espetacularização dos eventos com a participação de celebridades midiáticas também foi explorada pelas associações como um modo de encantar e engajar pessoas nas pautas de reivindicação. 

A despeito do maior alcance que os dispositivos comunicacionais permitiram, as mobilizações apresentaram preponderância de falas autorizadas e legitimadas socialmente, tais como médicos, profissionais especializados como advogados, administradores, psicólogos e sanitaristas de camadas médias, brancas. Apesar de ser um ativismo de organização de paciente, sua voz tem pouco protagonismo sendo utilizada para corroborar pautas de reivindicação e estratégias de ação. Os movimentos sociais em câncer ainda carecem de maior representatividade racial, social e precisam ser analisados nas margens, ou seja, naquilo que é ofuscado diante desse modo de fazer ativismo no Brasil.

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