Semana de Abertura PPGICS 2024 debate desinformação e direitos

No segundo dia da Semana de Abertura do PPGICS 2024, que tem como objetivo debater sobre o direito à saúde: os lugares para a informação e a comunicação, a mesa “Desinformação x direitos: desafios para comunicação e saúde” reuniu as pesquisadoras Jacqueline Brigagão (USP), Izamara Bastos (PPGICS), Hully Falcão (PPGICS) e Kátia Lerner (PPGICS), com a moderação de Claudia Malinverni (Instituto de Saúde do Estado de São Paulo), que trabalham com a questão da disseminação da desinformação.

Elas foram convidadas para falarem sobre suas pesquisas publicadas nos livros apresentados para discentes e docentes do Programa: Desinformação e covid-19: desafios contemporâneos na comunicação e saúde, organizado por Cláudia Malinverni, Jacqueline I. Machado Brigagão, Janine Cardoso, Edlaine Faria Moura Villela, Carlos Roberto Z. Bugueño (São Paulo: Instituto de Saúde, 2023), e Entre medo e solidariedade: mídia, política e alteridade na covid-19, organizado por Kátia Lerner, Cristina Teixeira e Paulo Vaz (São Paulo: Pimenta Cultural, 2023).

Jacqueline Brigagão foi a primeira a falar sobre a importância das pesquisas que envolvem o período pandêmico e as relações entre comunicação e saúde para entender e enfrentar os desafios contemporâneos. Fez uma apresentação geral do livro Desinformação e covid-19, uma coletânea de artigos que explicita as complexas relações que se estabelecem na produção do conhecimento e na estruturação de narrativas, considerando diferentes olhares teóricos e conceituais, a partir de resultados de pesquisas e experiências com a crise sanitária. A publicação integra a coleção de temas sobre saúde coletiva e conta com a colaboração de 34 pesquisadores de 20 instituições do Distrito Federal e de sete estados brasileiros: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe. Dividido em quatro partes, aborda questões de ciência e desinformação, o imaginário social e os discursos jornalísticos no contexto da covid-19, vacina e vacinação, além de entrevistas sobre a comunicação no enfrentamento da pandemia no Brasil e no Chile.

Izamara Bastos, autora do oitavo capítulo, intitulado “O SUS midiático e a chegada da covid-19 ao Brasil na cobertura do jornal O Globo”, apresentou pesquisa sobre como as narrativas jornalísticas participam da construção da imagem e da produção de sentido sobre o sistema público de saúde: “Na época da pandemia, era surpreendente ver o jornal defendendo o SUS e afirmando sua importância para ajudar a salvar a população. Antes, essa mesma mídia não narrava o sistema único de saúde e a saúde pública como um sistema importante, necessário ou mesmo eficiente. Basta lembrarmos que as pautas recorrentes giram em torno da falta de leitos, exames e tratamentos etc.”. Ela ressaltou ainda a importância de percebermos as nuances que ocorrem nas narrativas e seus contextos porque elas também atuam diretamente na construção da memória sobre saúde, saúde pública, SUS e sociedade.

A terceira a falar foi Hully Falcão, autora do capítulo dois do livro, intitulado “Sob o regime contemporâneo da pós-verdade: o bios midiático, a desinformação científica em saúde e a importância da perspectiva das mediações”, com Igor Sacramento e Ana Carolina Monari. No texto, os autores debatem a inter-relação da pós-verdade com a covid-19, associando-a com a desinformação científica em saúde. Hully explicou que, ao promoverem uma análise baseada na etnografia e nas mediações, buscaram ampliar o debate sobre o tema: “É preciso que pensemos em outras perspectivas para compreendermos fenômenos contemporâneos relacionados a verdade, desinformação e comunicação para além de conhecimentos oriundos das instituições tradicionais. Fundamental trabalharmos com novos regimes de verdade que envolvem emoção para a validação de experiências, fatos e sentidos”. Para Hully, temos que ampliar o universo de pesquisa e ficarmos atentos a novas formas de legitimação de discursos e vivências que se estabelecem no mundo on-line e no off-line.

Logo após, Katia Lerner apresentou a pesquisa que originou o capítulo 11 do livro, intitulado “Protegendo os inocentes: discursos antagônicos à vacinação infantil contra covid-19”, que escreveu em parceria com Janine Cardoso. As autoras analisam os discursos antagônicos à vacinação de crianças entre 5 e 11 anos contra covid-19, iniciada em janeiro de 2022, que circularam nas mídias digitais. Katia contou como a pesquisa foi realizada e a proposta de se debruçar sobre a produção social de sentidos sobre a doença – discursos que envolvem argumentos e emoções, com hierarquia e moralidades próprias e frutos do contexto político e social em que foram construídas e compartilhadas: “Isso tudo fez a vacina ser considerada tanto um vetor de esperança como de risco. A legitimação de conceitos e autoridades científicas tinham apelos semelhantes, em determinados grupos, a pessoas sem credenciais técnicas ou científicas na área de saúde e/ou de comunicação. Muita coisa girava na reverberação e na produção social do medo, da desconfiança e da indignação”.

Além de participar do livro Desinformação e covid-19, Kátia Lerner foi uma das organizadoras e autoras da publicação Entre medo e solidariedade: mídia, política e alteridade na covid-19.

Katia contou sobre a origem do livro, fruto de debates e análises do grupo de pesquisa “Covid-19 e subjetividade neoliberal”, que se formou em resposta à pandemia da Covid-19. Em encontros semanais, pesquisadores discutiam as questões explicitadas pela crise, particularmente as relacionadas ao neoliberalismo e suas implicações na resposta à pandemia. A ideia da publicação foi aqui gestada, mas pôde ser concretizada com o apoio do Edital Impactos da Pandemia da Capes ao projeto “Obstáculos à comunicação de risco na pandemia da Covid-19: infodemia, desinformação, algoritmos e desconfiança em contextos de polarização política e crise dos sistemas peritos”.

No projeto, 15 pesquisadores das universidades federais do Pará (UFPA), de Pernambuco (UFPE), de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Rio de Janeiro (UFRJ e UFF), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e das universidades do Porto e do Minho, de Portugal, se uniram a pesquisadores e estudantes do grupo de pesquisa na produção dos 10 capítulos que compõem a publicação. Os textos tratam desde as emoções despertadas pela pandemia até o papel dos meios de comunicação na disseminação de informações e desinformação sobre a Covid-19, passando pela polarização política em torno das medidas de combate à pandemia e as consequências sociais, econômicas e de saúde pública da crise.

Data de publicação
1 month 3 weeks atrás